segunda-feira, 14 de maio de 2012

A tempestade tinha andado até agora mais para o oeste da ilha, mas hoje bateu aqui mesmo à minha porta. Chuva torrencial, terríveis descargas e trovões, a ponto de mesmo tendo tomado as minhas precauções habituais (desligar cabo, desligar telefone - e consequentemente, a internet - e desligar mesmo a corrente elétrica, às tantas, de toda a casa) não me sentia lá muito descansada, ao ouvir os estalinhos do sistema de alarme (que tem bateria autónoma) a cada relãmpago, e ponderava se não deveria mesmo ter mandado instalar um pára raios no telhado, aquando da reconstrução. Bem, ao menos o vento não está muito forte...com vento seria ainda pior. O meu bom amigo e vizinho sr. Louro ligou-me para o telemóvel, tanto ele como a esposa preocupados comigo, se eu não teria medo dos trovões! que eu não me esquecesse de que tinham, lá em casa, quartos vazios, onde eu poderia ficar quando o medo apertasse! Declinei a sua generosa oferta, afirmando a pés juntos que não, não tinha medo nenhum, o que não era inteiramente verdade, já se vê. Qual é o ser humano que não teme o trovão, mesmo sabendo, racionalmente, que se o ouvir é porque a descarga não o atingiu e ainda está vivo? Bem à moda antiga, fechei as portadas das janelas, acendi uma vela, puxei de um livro mesmo sem o escolher (quis o acaso que fosse "Sozinho à volta do mundo", a bela epopeia de Joshua Slocum) enquanto mentalmente ia, com meia dúzia de neurónios, examinando para cada conjunto de relâmpago e trovão o tempo que os separava, na expectativa de que este fosse aumentando. E assim parecia acontecer...li metade do livro e os olhos foram-se fechando devagar. Quando acordei o sol brilhava, o céu azul espreitava por entre um restos de nuvens esfiapadas e o verde dos pastos e das árvores reluzia de lavado. A chuva parara, as pedras da calçada já começavam a secar. Que é isto? É fácil a resposta: Açores, o canto de mar que tem um anticiclone no coração.

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