quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Ómega ou omega?


Ómega, ou Omega?

Há algum tempo comprei, num determinado estabelecimento  comercial,  um relógio de pulso. Tentando explicar ao vendedor o tipo de objecto que me interessava, fui dizendo que de facto não pretendia um relógio Omega (sinónimo de grande qualidade  e preço elevado) mas apenas algo que fosse funcional, modesto e de preço módico. De modo muito cortês, usando um tom de voz baixo e suave  - decerto no receio de algum melindre - o jovem corrigiu-me: Ómega, minha senhora.

Como além de ser provavelmente a única professora de Física e Química viva que pronuncia nanometro ao invés de nanómetro (e não chego ao extremo de dizer “quilometro” porque ninguém me entenderia, evidentemente, isto muito embora todos entendam quilograma e não digam quilógrama) também devo ser das poucas pessoas, ao menos nos círculos onde me movimento, que pronuncia omega e não ómega.

Não aprendi grego, disciplina que no meu tempo já não se considerava como fazendo parte das aprendizagens essenciais que todo o aluno português deveria realizar, nem sequer latim, ambas as línguas fazendo bastante faltinha a um bom domínio do próprio e materno idioma - mas cheguei mais ou menos por conta própria, e por ter tido um pai que muitas e muitas vezes me mandou ir procurar assuntos  às gramáticas e dicionários em vez de me dar papinhas feitas, a conhecer o alfabeto grego, bem como algumas palavras e estruturas frásicas simples. E foi assim que aprendi que no dito alfabeto existem dois "os": um "o" breve, de curta duração pois, chamado òmicrón  (O, o), e um outro "o", longo, o omega (Ω, ω), cujo nome tem o significado exacto de “o” grande, no sentido temporal.  Megalito (que alguns também pronunciarão megálito) e megalómano,  e o tão conhecido megabyte que nem português é mas se percebe perfeitamente, apresentam o mesmo mega, como prefixo, sempre  com o  significado de “grande”.

Lá vim para casa, de relógio novo no pulso e alguma mágoa no coração, não por ter sido corrigida pelo vendedor nem sequer por não trazer comigo um belo relógio Omega em vez de uma cebolita que me custou vinte euros,  mas sobretudo por não compreender como é que se instalam estes desacertos, e de tal maneira que enquanto estou a escrever estas linhas o próprio word já me alterou a acentuação gráfica várias vezes, no òmicrón retirando-a, e no omega colocando o negregado acento agudo no “o”, que não pretendo pôr, mas ele entende que deveria.

Lá dei a voltinha às gramáticas de grego, às velhas gramáticas de meu pai, onde confirmei o atrás exposto, e também as dei na internet, onde a maior parte dos sites reza pela mesma cartilha do funcionário da relojoaria, sendo brasileiros grafando até “ômega”,  e somente num encontrei tratar-se de palavra paroxítona,  omega pois, tal como aprendi.

Vem algum mal ao mundo de se dizer ómega, megálito, leucémia, glicémia e mais umas pérolas assim? Sim, vem, pois revela a superficialidade do nosso ensino.

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