domingo, 3 de abril de 2011
Perdidos..a remos e a velas?
O artigo do sr. Charles Forelle no The wall Street Journal, em 25 de Março último, parece ter mexido com gente e instituições (veremos se também com estas), ou pelo menos é o que se depreende da leitura de alguns dos comentários furibundos ao mesmo (ver link abaixo) feitos por gente que decerto não gosta nada de ouvir dizer mal de Portugal, nem eu gosto. Ver um estrangeiro pôr o dedo em certas feridas de modo tão exacto fez-me chegar quase à angina pectoris (como se ouvisse dizer mal de meu pai) mas a triste realidade é que o sr. Charles Forelle por muito pulitzeriado que seja não sabe da missa nem metade, até porque não exerceu o professorado no sistema de ensino português durante trinta e nove anos, como eu por exemplo, e outros.
Algumas das conclusões aliás sábias do dito sr. Forelle ancoram-se no facto de que apenas 28% dos portugueses entre os 25 e os 64 anos terminaram a "high school" - ou seja, e dado que se trata de um americano a falar, o ensino secundário. Mas o que este articulista ignora (e nao sei se deva dizer "ainda bem" ou "infelizmente") é o estado em que muitos o terminam, avançam para a licenciatura e chegam a...professores, talvez.
Há algum tempo atrás dei início a um pequeno trabalho estatístico, em que acompanhei o percurso dos 80 alunos que no ano lectivo de 2002/2003 entraram para o 5º ano de escolaridade na Escola onde trabalhava e dos quais alguns tinham sido ou eram meus alunos. No final de 2009/2010, pela ordem natural das coisas, boa parte desses alunos completaria o ensino secundário com sucesso, com a realização dos exames nacionais.
Boa parte, esperava eu. Na verdade foram 11 (onze) que o completaram, em dois cursos, e ainda destes onze quatro tiveram negativa, no exame, em Português; ou seja, teríam reprovado se fosse apenas a nota do exame a contar para a passagem. Pode dizer-se então que pelo menos sete alunos concluíram, com sucesso, o ensino secundário na altura própria. Sete - em oitenta.
Que sucedeu aos restantes sessenta e nove (pois os tais quatro passaram, mal ou bem)? Muitos foram reprovando pelo caminho, do 5º ao 11º anos, muitos ficaram só com o 9º ano, abandonando o estudo, muitos transferiram-se para o ensino profissional, alguns (poucos) mudaram de curso e consequentemente de escola...outros ainda por lá estao e estarão, pelo menos enquanto existirem exames nacionais.
Que sucedeu à Escola onde isto aconteceu? Nada, é claro. Bem, como também não lhe aconteceu nada no ano lectivo em que ocupou o último lugar no ranking das escolas portuguesas. E fica tudo dito...
Concluindo, está mais que visto que vou escrever ao sr. Forelle, e agradecer-lhe...o remédio amargo.
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