...keeps the doctor away, e decerto é por causa deste ditado (e mais algumas leituras sobre nutrição humana) que eu procuro comer uma maçãzinha por dia, e de preferência mais alguma outra peça de diferente espécie de fruta, o que me deixa ainda aquém do preconizado na roda dos alimentos - roda de que tanto se fala e infelizmente tão pouco se segue.
Hoje, como habitualmente às quintas feiras, lá fui à frutaria onde me forneci de maçãs para a semana: 7, pois, correspondentes a 1,25 kg, pelas quais paguei a módica quantia de 2,19 euros. Lindas, perfeitas e coradas, embora já as conhecendo um tanto sensaboronas (o que não as impedirá decerto de possuirem todos os princípios profilácticos) cá chegaram elas do longínquo Chile, identificadas uma a uma por pequenos autocolantes.
E foi então que me meti a fazer umas contas...se metade dos açorianos, digamos pois 125000 pessoas, fizer como eu, a módica quantia transforma-se em...14235000 euros ao fim de um ano (catorze milhões! não posso crer... vou repetir o cálculo...mas não, não me enganei...) que, na sua maior parte, fará sentido que vão parar ao Chile, país produtor.
Se às humildes maçãs somarmos outras frutas que nos chegam da Colômbia, da Costa Rica, da Nova Zelândia e talvez até da Cochinchina, os já de si imensos catorze milhões de euros transformar-se-ão em...não sei. Calculo que o sr. quem de direito (aqui leia-se governo, tanto regional como central) possua dados que lhe permitam estimativas mais exactas dos rios de dinheiro que anualmente, saídos gota a gota das nossas mãos, vão parar a outros países, e só estamos a falar de algumas frutas.
Por que não virão estes pomos e outros de Portugal continental, já que os Açores os não produzem? Estas quantias mirabolantes ficariam ao menos no país! A segunda pergunta é, forçosamente, por que razão não se hão-de produzir cá...terra de bom clima, bom solo, boas águas?
E passando às sugestões depois das perguntas, a principal é que se ponha uma boa dona de casa (modéstia à parte, assim com'a mim...) neste momento à frente do Ministério das Finanças; em poucos anos, pagas as dívidas externa e interna, as algemas nos cairiam finalmente dos pulsos...e aí talvez pudéssemos ser de novo Portugal, o tal - aquele mesmo, que deu novos mundos ao mundo velho e bafiento.
Na imagem: maçãs da Beira Alta, muito parecidas com as que hoje comprei...
quinta-feira, 16 de junho de 2011
sábado, 11 de junho de 2011
O que é preciso...para ser feliz?
Por ordem de prioridades...
Possuir uma casa que me abrigue da chuva, do frio, dos ventos do inverno e do sol ardente dos verões, de boa construção para resistir aos tremores de terra, onde seja possível dormir de maneira cómoda, cozinhar e tomar banho; não tem de ser luxuosa, mas apenas suficiente; televisão por cabo e internet serão extras, mas muito interessantes;
Ter dinheiro que baste para comprar comida que possa cozinhar sem pretensões de gourmet, mas tão somente seguindo com o maior escrúpulo possível a roda dos alimentos (variante: a casa poderá possuir quintal suficientemente grande para que eu possa produzir a minha própria comida, em regime que seja de autosuficiência, ou talvez mesmo em ligeiro excesso que permitirá, vendido, obter dinheiro para comprar o que não consigo produzir);
Ter água de boa qualidade à disposição, e ar não poluído para respirar sem agredir os pulmões que Deus me deu;
Ter filhos, para que os meus genes, que são os genes misturados dos meus pais, possam ser transportados para o futuro;
Ter a certeza de que o meu emprego é firme e de que não o perderei a não ser que faça por isso, e de que o meu vencimento não será reduzido a valores que me não permitam manter a casa, a comida, a água, o combustível no fogão e a educação que os filhos devem receber;
Saber que não estou à mercê de delinquentes e de agressores vários, e que se dela necessitar a polícia acorrerá em meu socorro, bem como os tribunais que me farão justiça...atempadamente;
Confiar plenamente na estabilidade da minha família, e que os seus membros não encolherão os ombros perante as minhas dificuldades, formando ao invés um bastião de defesa em meu redor - como eu farei à volta deles;
Ter plena certeza de igual modo de que, se ficar doente, poderei recorrer a bons médicos e obter os remédios que me curem dos meus males, mesmo que me não me seja possível pagar da minha algibeira os tratamentos de que necessito;
Conseguir viver em paz na minha comunidade (mesmo que por vezes seja necessário combater um bocadinho) onde muitas pessoas, quase todas, me apreciam e respeitam e com quem posso comunicar expressando os meus sentimentos, tão integrada na grande família humana como na pequena sub-família que constitui o meu universo próximo;
Estimar-me a mim mesma, e saber intestinamente que não serei derrubada embora possa oscilar por momentos, confiando nas minhas próprias capacidades para conceber e realizar os meus projectos, enquanto persigo o crescimento constante da minha pessoa em independência e liberdade - sem duvidar (muito) do potencial dos neurónios que me foram distribuídos;
Ser capaz, em suma, de reconhecer que o trabalho que executei é bom, mesmo que tenha sido realizado em mais do que seis dias, e se não for bom, conseguir modificá-lo até que esteja mais perto da perfeição à minha medida...
De que mais precisarei para ser feliz? pois é, já quase me esquecia: de amar...como Jesus amou, se bem me lembro...
Decerto que alguém se aperceberá que antes de escrever estas linhas andei a rever a pirâmide de Maslow...Entretanto, há aspectos que dependerão de se ter ou não um bom governo à frente do país...colocando esses em prateleira à parte, verifico que até tenho praticamente tudo aquilo de que preciso...para ser feliz.
Possuir uma casa que me abrigue da chuva, do frio, dos ventos do inverno e do sol ardente dos verões, de boa construção para resistir aos tremores de terra, onde seja possível dormir de maneira cómoda, cozinhar e tomar banho; não tem de ser luxuosa, mas apenas suficiente; televisão por cabo e internet serão extras, mas muito interessantes;
Ter dinheiro que baste para comprar comida que possa cozinhar sem pretensões de gourmet, mas tão somente seguindo com o maior escrúpulo possível a roda dos alimentos (variante: a casa poderá possuir quintal suficientemente grande para que eu possa produzir a minha própria comida, em regime que seja de autosuficiência, ou talvez mesmo em ligeiro excesso que permitirá, vendido, obter dinheiro para comprar o que não consigo produzir);
Ter água de boa qualidade à disposição, e ar não poluído para respirar sem agredir os pulmões que Deus me deu;
Ter filhos, para que os meus genes, que são os genes misturados dos meus pais, possam ser transportados para o futuro;
Ter a certeza de que o meu emprego é firme e de que não o perderei a não ser que faça por isso, e de que o meu vencimento não será reduzido a valores que me não permitam manter a casa, a comida, a água, o combustível no fogão e a educação que os filhos devem receber;
Saber que não estou à mercê de delinquentes e de agressores vários, e que se dela necessitar a polícia acorrerá em meu socorro, bem como os tribunais que me farão justiça...atempadamente;
Confiar plenamente na estabilidade da minha família, e que os seus membros não encolherão os ombros perante as minhas dificuldades, formando ao invés um bastião de defesa em meu redor - como eu farei à volta deles;
Ter plena certeza de igual modo de que, se ficar doente, poderei recorrer a bons médicos e obter os remédios que me curem dos meus males, mesmo que me não me seja possível pagar da minha algibeira os tratamentos de que necessito;
Conseguir viver em paz na minha comunidade (mesmo que por vezes seja necessário combater um bocadinho) onde muitas pessoas, quase todas, me apreciam e respeitam e com quem posso comunicar expressando os meus sentimentos, tão integrada na grande família humana como na pequena sub-família que constitui o meu universo próximo;
Estimar-me a mim mesma, e saber intestinamente que não serei derrubada embora possa oscilar por momentos, confiando nas minhas próprias capacidades para conceber e realizar os meus projectos, enquanto persigo o crescimento constante da minha pessoa em independência e liberdade - sem duvidar (muito) do potencial dos neurónios que me foram distribuídos;
Ser capaz, em suma, de reconhecer que o trabalho que executei é bom, mesmo que tenha sido realizado em mais do que seis dias, e se não for bom, conseguir modificá-lo até que esteja mais perto da perfeição à minha medida...
De que mais precisarei para ser feliz? pois é, já quase me esquecia: de amar...como Jesus amou, se bem me lembro...
Decerto que alguém se aperceberá que antes de escrever estas linhas andei a rever a pirâmide de Maslow...Entretanto, há aspectos que dependerão de se ter ou não um bom governo à frente do país...colocando esses em prateleira à parte, verifico que até tenho praticamente tudo aquilo de que preciso...para ser feliz.
sábado, 4 de junho de 2011
A preguiça...
A Preguiça, inda de peito
Muito custou a criar!
Quase que morreu de fome,
Com preguiça de mamar.
Preguiça, já crescidinha,
Quando por seu pé andava,
Não era andar! mais par´cia
Que toda se espreguiçava…
Preguiça foi à lição:
Ler, escrever e contar?
Deixava a memória em casa,
Com preguiça de a levar!
Preguiça, foi confesar-se:
“Fez exame de consciência?”
“Não fiz, meu padre! mas faço-o
Amanhã … Tenha paciência.”
Preguiça aprendeu costura:
Mas, sempre que costurava,
Só para não pôr dedal,
Sempre os seus dedos picava.
Preguiça, morta de sono,
Quase de sono morria:
Só por não fechar os olhos,
Quantas noites não dormia!
A Preguiça, muito a custo,
Fez a cama, e se deitou;
Para não mais a fazer,
Nunca mais se levantou.
A Preguiça abria a boca,
Coisa em que ela era mais certa:
Mas depois – p´ra não fechar -
Ficou sempre “Bôca-aberta”.
A Preguiça e o Desmazelo
Juntaram-se em casamento:
Levando os dois, em bom dote
Uma mancheia de vento.
Preguiça teve dois filhos:
Oh que santa geração!
A mais velha, Dona Fome;
O mais novo, Dom Ladrão.
Quando a Preguiça morrer;
Até o monte maninho,
Até fraguedos da serra
Darão rosas, pão, e vinho.
(António Correia de Oliveira)
Muito custou a criar!
Quase que morreu de fome,
Com preguiça de mamar.
Preguiça, já crescidinha,
Quando por seu pé andava,
Não era andar! mais par´cia
Que toda se espreguiçava…
Preguiça foi à lição:
Ler, escrever e contar?
Deixava a memória em casa,
Com preguiça de a levar!
Preguiça, foi confesar-se:
“Fez exame de consciência?”
“Não fiz, meu padre! mas faço-o
Amanhã … Tenha paciência.”
Preguiça aprendeu costura:
Mas, sempre que costurava,
Só para não pôr dedal,
Sempre os seus dedos picava.
Preguiça, morta de sono,
Quase de sono morria:
Só por não fechar os olhos,
Quantas noites não dormia!
A Preguiça, muito a custo,
Fez a cama, e se deitou;
Para não mais a fazer,
Nunca mais se levantou.
A Preguiça abria a boca,
Coisa em que ela era mais certa:
Mas depois – p´ra não fechar -
Ficou sempre “Bôca-aberta”.
A Preguiça e o Desmazelo
Juntaram-se em casamento:
Levando os dois, em bom dote
Uma mancheia de vento.
Preguiça teve dois filhos:
Oh que santa geração!
A mais velha, Dona Fome;
O mais novo, Dom Ladrão.
Quando a Preguiça morrer;
Até o monte maninho,
Até fraguedos da serra
Darão rosas, pão, e vinho.
(António Correia de Oliveira)
sexta-feira, 3 de junho de 2011
Ainda o sr. DSK

...En 2007 aspiró a ser el líder del socialismo francés. Pero perdió en las primarias de entonces frente a Ségolène Royal. Ahora cabalgaba en todos los sondeos aunque en las últimas semanas se habían hecho públicas ciertas informaciones sobre su tren de vida de millonario que debilitaban su imagen: paseos por París en el Porche Panamera de 100,000 euros de un amigo, trajes de modistos exclusivos de 30,000 euros, cocinas de 100,000 incrustadas en palacetes del siglo XIX en Marraquech…
Hummm...que socialista este! faz-me lembrar aquela senhora de Santa Maria, referida por Jacinto Monteiro, que usava vistoso saiote colorido debaixo das roupas negras de viúva...
Porque será que os partidos não expulsam, meramente, gente desta, e doutras, das suas fileiras?
Talvez pensem (parafraseando alguém...) que somos todos imbecis?
E já agora: o novo modelo da Porshe (PP diesel) tem chegada a Portugal prevista para o próximo mês de Agosto, sendo proposto entre nós por 104 299 euros.
Lá bonito é ele. Mas...o meu carrinho, humílimo ao pé deste brinquedo de luxo, também o é afinal...e até anda...
quarta-feira, 1 de junho de 2011
Socialização
Uma jovem é agredida brutalmente por duas colegas, com pontapés nomeadamente na cabeça e no rosto, enquanto um quarto filma o espectáculo, perante as risadas de vários;
Outra jovem esfaqueia com um X-ato uma colega, e um rapaz que (vá lá!) que acorre em defesa da vítima;
Um recruta da marinha é agredido e humilhado por meia dúzia de colegas, enquanto mais uma vez alguém filma a graça.
Isto, o que se soube, e na última semana.
Todos andaram, ou andam, em escolas públicas.
A escola serve (ao menos) para socializar?
Viva o ensino doméstico.
Outra jovem esfaqueia com um X-ato uma colega, e um rapaz que (vá lá!) que acorre em defesa da vítima;
Um recruta da marinha é agredido e humilhado por meia dúzia de colegas, enquanto mais uma vez alguém filma a graça.
Isto, o que se soube, e na última semana.
Todos andaram, ou andam, em escolas públicas.
A escola serve (ao menos) para socializar?
Viva o ensino doméstico.
domingo, 22 de maio de 2011
Que se passa connosco?
DSK foi acusado, por uma humilde empregada de limpeza de um hotel, de agressão no domínio sexual. É (era) um homem poderoso, o segundo mais poderoso sobre a terra depois de Barak Obama, segundo se diz. Ao invés de, imediatamente, ser levantada uma muralha de compassiva solidariedade ao redor da desgraçada vítima, que não só é mulher, como também é pobre, de ascendência africana e talvez até infectada com o vírus da sida, no sentido de ser de algum modo compensada pelos maus tratos e humilhação sofridos, levanta-se isso sim uma rebuscada teoria da conspiração, segundo a qual o “pobre senhor" é que estará a ser vítima de um complot destinado a impedir que possa concorrer em França às próximas presidenciais, e põem-se detectives em campo mas para esquadrinhar todos os possíveis podres no passado e no presente da infeliz senhora.
Repete-se um sem número de vezes que DSK tem direito à presunção de inocência – enquanto se parece esquecer que, neste caso, a presunção da inocência do atacante corresponde inteiramente à presunção da culpa da queixosa, que, estando o primeiro inocente, se teria então queixado sem motivo, ou com inconfessáveis motivos, sendo pois a culpada - de difamação e calúnia. A “presunção de inocência” não se aplicará, pois, a ela? Só a ele? Porquê, porque é homem – por um lado – e poderoso, por outro?
E porque o anterior é de facto insustentável, até para mentes meio apodrecidas, surge agora a variante de que terá havido de facto relacionamento sexual com a empregada do hotel, mas consentido por esta.
Piedade pelo “pobre” DSK vejo-a em todo o lado, na França então nem se fala, mas mesmo em Portugal, mesmo nos blogs, mesmo no facebook – enquanto a piedade pela mulher que entra num local para cumprir o seu dever e é atacada por uma besta psicótica surge muito diminuta, mesmo pontual.
Até Miguel de Sousa Tavares pareceu, em entrevista que ouvi, lamentar a forma à farwest com que os cowboys americanos trataram DSK, colocando-lhe algemas nos pulsos e não o desviando da humilhação pública – o que seria abrigar da tempestade o semeador dos ventos. Advogados e juristas escrevem “ que bastaria ter-lhe retirado o passaporte” “não era necessário exibi-lo perante a imprensa”, constatando o seu ar abatido, o rosto mal barbeado, que parece – numa inversão para mim incompreensível de sentimentos - suscitar-lhes mais compaixão do que asco.
As próprias esposas do dito indivíduo, a actual tanto como a ex, saem em sua defesa, procedimento pouco congruente aliás com o próprio passado de pessoa que conta com vários deslizes sexuais, de conhecimento público, no seu curriculum. Porque o fazem? Não posso responder, mas é certo que (parafraseando a corajosa jornalista Gioconda Belli, cujas palavras transcrevi abaixo) não deveriam deixar que a solidariedade, mesmo para com o actual ou ex marido, se transforme em conivência, em encobrimento.
Que se passa connosco? Já não sabemos distinguir a grande probabilidade da remota possibilidade teórica, o preto do branco, o bem do mal?
No meio disto tudo...surge alguma luz, mas proveniente dos States que aliás várias vezes me têm dado má imagem de si como país. A justiça americana actuou depressa, e de modo imparcial – tanto se lhe fez que DSK fosse um homem mundialmente conhecido, poderoso e rico, ou o mais apagado dos operários de uma fábrica; actuou às claras, mas sem alarido, retirando discretamente o indivíduo da cabina de um avião onde a sem vergonhice ainda o levara a atirar, minutos antes de ser preso, piropos ao posterior de uma hospedeira; colocou-lhe algemas, como colocaria em qualquer estivador acusado do mesmo, e força-o agora a usar uma pulseira sinalizadora e a estar vigiado dia e noite, como perigosa godzilla que tudo leva a crer que é.
E enquanto a família vai procurando caríssimos apartamentos ainda numa exibição do seu poderio económico, para conforto do “pobre infeliz” na prisão domiciliária, um humilde habitante do mal afamado bairro Bronx é quem me conforta a mim, com as suas palavras notáveis: aqui é New York...esse homem aqui não é poderoso...
É pois igual aos outros: God bless America.
Perdoa-me, Portugal, minha pátria querida que nunca quis abandonar, mas se soubesse então o que sei hoje teria emigrado para lá. Sem sombra de dúvida.
Repete-se um sem número de vezes que DSK tem direito à presunção de inocência – enquanto se parece esquecer que, neste caso, a presunção da inocência do atacante corresponde inteiramente à presunção da culpa da queixosa, que, estando o primeiro inocente, se teria então queixado sem motivo, ou com inconfessáveis motivos, sendo pois a culpada - de difamação e calúnia. A “presunção de inocência” não se aplicará, pois, a ela? Só a ele? Porquê, porque é homem – por um lado – e poderoso, por outro?
E porque o anterior é de facto insustentável, até para mentes meio apodrecidas, surge agora a variante de que terá havido de facto relacionamento sexual com a empregada do hotel, mas consentido por esta.
Piedade pelo “pobre” DSK vejo-a em todo o lado, na França então nem se fala, mas mesmo em Portugal, mesmo nos blogs, mesmo no facebook – enquanto a piedade pela mulher que entra num local para cumprir o seu dever e é atacada por uma besta psicótica surge muito diminuta, mesmo pontual.
Até Miguel de Sousa Tavares pareceu, em entrevista que ouvi, lamentar a forma à farwest com que os cowboys americanos trataram DSK, colocando-lhe algemas nos pulsos e não o desviando da humilhação pública – o que seria abrigar da tempestade o semeador dos ventos. Advogados e juristas escrevem “ que bastaria ter-lhe retirado o passaporte” “não era necessário exibi-lo perante a imprensa”, constatando o seu ar abatido, o rosto mal barbeado, que parece – numa inversão para mim incompreensível de sentimentos - suscitar-lhes mais compaixão do que asco.
As próprias esposas do dito indivíduo, a actual tanto como a ex, saem em sua defesa, procedimento pouco congruente aliás com o próprio passado de pessoa que conta com vários deslizes sexuais, de conhecimento público, no seu curriculum. Porque o fazem? Não posso responder, mas é certo que (parafraseando a corajosa jornalista Gioconda Belli, cujas palavras transcrevi abaixo) não deveriam deixar que a solidariedade, mesmo para com o actual ou ex marido, se transforme em conivência, em encobrimento.
Que se passa connosco? Já não sabemos distinguir a grande probabilidade da remota possibilidade teórica, o preto do branco, o bem do mal?
No meio disto tudo...surge alguma luz, mas proveniente dos States que aliás várias vezes me têm dado má imagem de si como país. A justiça americana actuou depressa, e de modo imparcial – tanto se lhe fez que DSK fosse um homem mundialmente conhecido, poderoso e rico, ou o mais apagado dos operários de uma fábrica; actuou às claras, mas sem alarido, retirando discretamente o indivíduo da cabina de um avião onde a sem vergonhice ainda o levara a atirar, minutos antes de ser preso, piropos ao posterior de uma hospedeira; colocou-lhe algemas, como colocaria em qualquer estivador acusado do mesmo, e força-o agora a usar uma pulseira sinalizadora e a estar vigiado dia e noite, como perigosa godzilla que tudo leva a crer que é.
E enquanto a família vai procurando caríssimos apartamentos ainda numa exibição do seu poderio económico, para conforto do “pobre infeliz” na prisão domiciliária, um humilde habitante do mal afamado bairro Bronx é quem me conforta a mim, com as suas palavras notáveis: aqui é New York...esse homem aqui não é poderoso...
É pois igual aos outros: God bless America.
Perdoa-me, Portugal, minha pátria querida que nunca quis abandonar, mas se soubesse então o que sei hoje teria emigrado para lá. Sem sombra de dúvida.
Burras de carga, bestas de nora?
Transcrevo na íntegra, dando os meus parabéns à autora:
El triste espectáculo de la complicidad de algunas esposas
22/05/11
Por Gioconda Belli, ESCRITORA NICARAGÜENSE
Difícil saber si Dominique Strauss-Kahn es culpable o inocente, pero, definitivamente, si yo fuera su mujer, no saldría a defenderlo.
La complicidad de las esposas, ese tan femenino impulso de escudar al marido de las consecuencias de sus actos, no deja de ser un espectáculo casi tan triste como el de estos hombres que abusan de su poder y sus privilegios .
Ya en 2008, Anne Sinclair, la esposa de Dominique Strauss-Khan, optó por no darse por ofendida y barrer bajo la alfombra la revelación de que su esposo había sostenido relaciones con una empleada del FMI, siendo él presidente de la institución. Cuando el domingo pasado la policía detuvo a Strauss-Kahn en la cabina de primera clase de Air France, luego de que la camarera del Hotel Sofitel donde estuvo hospedado, lo acusara de haberla forzado sexualmente, no sólo Anne Sinclair, sino la ex esposa de Strauss-Kahn negaron la posibilidad de que él fuera culpable de semejante desliz .
En 2003, cuando Arnold Schwarzsenegger se postulaba para gobernador de California y la prensa tímidamente reveló que el candidato tenía en su haber varios episodios de acoso sexual, su esposa María lo defendió. “Pueden escuchar cualquier cantidad de cosas negativas y pueden escuchar a gente que nunca ha conocido a Arnold … o pueden escucharme a mí cuando les digo que yo no estaría frente a ustedes si este hombre no mereciera las mejores calificaciones como ser humano”.
Con este espaldarazo de la esposa – una Kennedy ni más, ni menos- Arnold se convirtió en gobernador de California. La semana pasada, apenas cuatro meses después de que se le venciera su período, explotó el escándalo: resulta que el gobernador había tenido un hijo con el ama de llaves que trabajó en su casa por veinte años.
María y ella estuvieron embarazadas al mismo tiempo , conviviendo a diario en la misma casa. Ahora, la Shriver, humillada tras la confesión del marido, lo ha dejado y él ha tenido que explicar públicamente el entuerto.
¿Qué motiva a estas esposas a salir armadas de sonrisas ante los medios a defender a estos hombres poderosos? Hillary Clinton le salvó el pellejo a su marido Bill cuando, siendo candidato, la prensa destapó su relación con Jennifer Flowers. En vez de escarmentar, el hombre volvió a las andadas con Mónica Lewinsky y tuvo que pasar gran parte de su presidencia ocupado en protegerse de las consecuencias de ese desliz.
El caso más dramático en esta liga de mujeres defensoras de los actos indefendibles de los maridos es el de Rosario Murillo, actual primera dama de Nicaragua , quien en 1998, cuando su hija acusó a Daniel Ortega de abusarla sexualmente desde los once años, en vez de apoyar a la hija, tomó el lado del esposo y hasta le pidió al pueblo de Nicaragua en un acto público que la perdonara por la clase de hija que había tenido. Fue una actuación verdaderamente insólita en una madre , pero que le valió a Rosario Murillo una cuota de poder desmesurada en la actual administración de su marido.
Como mujer no puedo más que rechazar la complicidad de estas esposas que facilitan las carreras políticas de sus esposos, a menudo a sabiendas de que, tarde o temprano les tendrán que sacar otra vez las castañas del fuego. Si las mujeres queremos que cambien las reglas del juego, no podemos confundir la solidaridad – esa hermosa y muy femenina cualidad- con el encubrimiento .
Para que los hombres cambien, nosotras también debemos cambiar esa arcaica costumbre de sufrir en silencio y apañar los abusos de los hombres que queremos . No hay poder que valga el respeto que nos debemos a nosotras mismas y a nuestras congéneres.
El triste espectáculo de la complicidad de algunas esposas
22/05/11
Por Gioconda Belli, ESCRITORA NICARAGÜENSE
Difícil saber si Dominique Strauss-Kahn es culpable o inocente, pero, definitivamente, si yo fuera su mujer, no saldría a defenderlo.
La complicidad de las esposas, ese tan femenino impulso de escudar al marido de las consecuencias de sus actos, no deja de ser un espectáculo casi tan triste como el de estos hombres que abusan de su poder y sus privilegios .
Ya en 2008, Anne Sinclair, la esposa de Dominique Strauss-Khan, optó por no darse por ofendida y barrer bajo la alfombra la revelación de que su esposo había sostenido relaciones con una empleada del FMI, siendo él presidente de la institución. Cuando el domingo pasado la policía detuvo a Strauss-Kahn en la cabina de primera clase de Air France, luego de que la camarera del Hotel Sofitel donde estuvo hospedado, lo acusara de haberla forzado sexualmente, no sólo Anne Sinclair, sino la ex esposa de Strauss-Kahn negaron la posibilidad de que él fuera culpable de semejante desliz .
En 2003, cuando Arnold Schwarzsenegger se postulaba para gobernador de California y la prensa tímidamente reveló que el candidato tenía en su haber varios episodios de acoso sexual, su esposa María lo defendió. “Pueden escuchar cualquier cantidad de cosas negativas y pueden escuchar a gente que nunca ha conocido a Arnold … o pueden escucharme a mí cuando les digo que yo no estaría frente a ustedes si este hombre no mereciera las mejores calificaciones como ser humano”.
Con este espaldarazo de la esposa – una Kennedy ni más, ni menos- Arnold se convirtió en gobernador de California. La semana pasada, apenas cuatro meses después de que se le venciera su período, explotó el escándalo: resulta que el gobernador había tenido un hijo con el ama de llaves que trabajó en su casa por veinte años.
María y ella estuvieron embarazadas al mismo tiempo , conviviendo a diario en la misma casa. Ahora, la Shriver, humillada tras la confesión del marido, lo ha dejado y él ha tenido que explicar públicamente el entuerto.
¿Qué motiva a estas esposas a salir armadas de sonrisas ante los medios a defender a estos hombres poderosos? Hillary Clinton le salvó el pellejo a su marido Bill cuando, siendo candidato, la prensa destapó su relación con Jennifer Flowers. En vez de escarmentar, el hombre volvió a las andadas con Mónica Lewinsky y tuvo que pasar gran parte de su presidencia ocupado en protegerse de las consecuencias de ese desliz.
El caso más dramático en esta liga de mujeres defensoras de los actos indefendibles de los maridos es el de Rosario Murillo, actual primera dama de Nicaragua , quien en 1998, cuando su hija acusó a Daniel Ortega de abusarla sexualmente desde los once años, en vez de apoyar a la hija, tomó el lado del esposo y hasta le pidió al pueblo de Nicaragua en un acto público que la perdonara por la clase de hija que había tenido. Fue una actuación verdaderamente insólita en una madre , pero que le valió a Rosario Murillo una cuota de poder desmesurada en la actual administración de su marido.
Como mujer no puedo más que rechazar la complicidad de estas esposas que facilitan las carreras políticas de sus esposos, a menudo a sabiendas de que, tarde o temprano les tendrán que sacar otra vez las castañas del fuego. Si las mujeres queremos que cambien las reglas del juego, no podemos confundir la solidaridad – esa hermosa y muy femenina cualidad- con el encubrimiento .
Para que los hombres cambien, nosotras también debemos cambiar esa arcaica costumbre de sufrir en silencio y apañar los abusos de los hombres que queremos . No hay poder que valga el respeto que nos debemos a nosotras mismas y a nuestras congéneres.
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