Cinquenta anos depois, reecontrei uma senhora de quem fui colega, personagem central aliás de um escrito meu, muito magoado e que muito me custou escrever, seja dito.
Nesse in illo tempore éramos alunas da quarta classe, e ela apresentava, como se diz hoje, algumas dificuldades de (ou na) aprendizagem. Jamais perceberei estas subtis diferenças entre "na" e "de", que alguns defendem existir.
Foi ela a primeira pessoa que eu vi apanhar reguadas na mão (chamavam-se "bolos", na altura) por ter feito erros no ditado. Até então, eu não tinha frequentado a escola pública (nem privada) mas sim o ensino doméstico, onde não tinham lugar semelhantes actos de violência demencial.
Não sei o que a M.M. (chamemos-lhe assim) trouxe dentro de si, da sua quarta classe, além de uma boa dose de pancadas e humilhações; quanto a mim, nesse ano aprendi várias coisas interessantes, como por exemplo a mentir, dissimular, aldrabar a senhora professora e defender-me também de pancadas com pancadas - não da mestra, que esta nunca me bateu - mas de outros.
Abençoado seja o ensino doméstico.
Hoje a M.M. não apanharia reguadas, embora de alguma humilhação, já do foro psicológico, se não livrasse decerto. Hoje passaria de ano sem saber nada das matérias, numa injustiça diferente mas igualmente danosa, e num futurível em que viesse a ser minha explicanda olharia para mim com os seus olhos tristes, sem saber que responder à questão em mim recorrente: mas então, menino/menina, um metro quantos milímetros tem? tal como hoje o fazem os meus reais explicandos, alunos do ensino secundário. Como lá chegaram, é mistério, mas só para quem não acompanhou o processo.
Mas que treta de ensino (oficial) foi, e é, este?
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