segunda-feira, 11 de maio de 2009

Sobre cães...ou talvez não


Há muitos anos comprei um livro sobre cães.

Já nessa altura tinha grande vontade de possuir um cãozinho, eufemismo carinhoso para o cão que eu gostaria de ter, amigo, protector e guarda, de dimensões avantajadas e aterrador para quem de mim se aproximasse com más intenções.
Escolhi a raça Pastor Alemão e comprei o livro, intitulado Mil Perguntas e Mil Respostas Sobre Cães, dado que a ter um cão, o mesmo deveria ser obviamente bem tratado.

Como aparte devo dizer-vos que já fui com efeito, mais tarde, dona de cães dessa raça, com tão pouca sorte mútua que o primeiro (chamava-se Lobo) foi envenenado com estricnina ou veneno de ratos, e o segundo - segunda, Pastora, com um "bolo" de carne recheado com vidro moído - procedimentos cruéis ainda em uso entre nós para nos livrarmos do cão do vizinho, cuja presença impede o assalto às laranjas do quintal.

É contra isto, e contra outros procedimentos incompatíveis com a dignidade humana que luta a senhora B.B., com diminuto sucesso aliás.

Nem o livro nem o veterinário puderam salvá-los, tiveram de ser abatidos.

Mantenho o desejo de um dia voltar a ser dona de um belo, grande e amistoso pastor alemão, a quem ensinarei a aplicação da máxima "benvindo seja quem vier por bem", máxima que pressupõe que quem não vier por bem terá problemas.

Mas vamos ao que agora interessa.

Comprado o livro, tratei de o ler atentamente, tomando muitas notas. E às tantas uma resposta chamou-me particularmente a atenção. Uma senhora tinha adquirido um cachorrinho num canil, e para sua casa o levou. Contrariada porque a aquisição parecia não corresponder às suas expectativas de comportamento (quais, não dizia) voltou ao canil para devolver o cão, o que a administração do dito não aceitou. Perguntava assim a indignada senhora ao autor porquê!

A resposta do veterinário foi a seguinte: os canis não aceitam a devolução de cãezinhos (à partida saudáveis e normais) porque compreenderam que se o fizessem os proprietários - ou alguns, pelo menos - pouco ou nenhum esforço dispenderiam para o educar convenientemente: o cãozinho não agrada afinal? Devolve-se, traz-se outro e pronto.

Imediatamente, estradas eléctricas e desconhecidas do meu cérebro conduziram-me ao seguinte pensamento: é por isto mesmo que o divórcio (entre seres humanos, já se vê) também não é solução.

Diga-se que na altura eu era favorável ao divórcio, muito provavelmente para me opor e contrariar os meus pais e de um modo geral a geração antepassada, pois nunca tinha pensado sequer muito maduramente no assunto. Então as pessoas não se dão bem, porque é que hão-de passar toda a vida amarradas uma à outra? Disparate supersticioso! E a tanto se resumiam as minhas observações (e pensamentos) a respeito. Bela adolescência.

Comecei a pensar mais no assunto, depois de ler esse livro que afinal era sobre cães e não sobre homens e mulheres...Mas decerto poderia ser, não tanto quanto aos perigos da urina de rato na comida (apesar de que a leptospirose também se transmite aos humanos) mas decerto quanto à descartabilidade.

2 comentários:

  1. Minha Cara Prima,
    Os divórcios (não só entre maridos e mulheres, mas entre seres vivos — a morte é uma forma de divórcio que a Natureza impõe) são sempre traumáticos. A diferença está na forma como cada um sabe viver o trauma: há quem, no dia seguinte, “vire a página” e siga em frente e quem fique a carpir mágoas para o resto da vida. Tal e qual como com a morte de um ente querido ou de um animal de estimação. A somar a tudo o mais, há ainda os circunstancialismos do momento e as conjunturas em que ocorrem os divórcios.
    Eis porque, não gostando eu da morte, não gosto de divórcios. Mas eles têm de acontecer quando são necessários, tal como a parca.
    Um abraço

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  2. O ribombar da trovoada é momentâneo, passageiro e só assusta os passarinhos mais incautos.
    Abramos todos os dias as nossas janelas, desfraldemos as cortinas que outrora as tapavam e deixemos entrar o vento norte, a fim de que nos solte os cabelos.
    E depois?
    Bem depois… façamos, juntos, um poema à liberdade.

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