Reconstruir À semelhança do que foi feito antes repetirá os trágicos efeitos
Data: 28-02-2010
Sábado dia 20, a Natureza avançou em ataque combinado das diversas forças. Depois de uma noite de aturada flagelação pluvial, a precipitação disparou na alvorada e os batalhões marcharam para a vertente sul da Madeira. Às primeiras horas da manhã, derrocadas e deslizamentos ruidosos carregaram em simultâneo sobre as populações das cotas altas e médias, levando consigo corpos humanos, casas e carros. Caudais em fúria aguilhoados por chuvas diluvianas desceram das faldas da cordilheira central e entraram na capital com imprecações de guerra, galgando muralhas e mainéis à força da água, calhaus e penedos. O bombardeamento de uma artilharia dissimulada abatia pontes e desfazia estradas. Horas de pânico.
A contagem de mortos enlutou a semana. A angústia de encontrar o pior nos escombros, na água estagnada dos parques de estacionamento, nos carros soterrados. Brigadas de operacionais a arriscar a vida para salvar cidadãos ainda em perigo. Pânico por todo o lado à conta de boatos irresponsáveis. O Funchal perdeu o bulício alegre de cidadãos e trânsito. Ruído das escavadoras a desobstruir leitos empedrados em desesperado contra-relógio antes da réplica de ataque, anunciada para ontem, e que não se confirmou. Rostos carregados, conversas sem nexo, desmoralização nas ruas argamassadas. Fins de dia em cenário tétrico. Cidade com cheiros inauditos, entregue aos homens e mulheres da recuperação e limpeza, câmaras de TV em busca de exclusivos, luzes bruxuleantes reflectidas no lamaçal. Esta não é a nossa cidade que fulgura ao sol e à chuva.
Chora o camponês: os da serra são escravos, a ajuda vai toda para os da praia. Assim se lamenta diante de uma câmara de televisão o homem cumpridor dos impostos que, para sustentar a família, trabalha ao sereno, ao sol ou ao frio das alturas, nos lombos e encostas, cabeços e serrados. Eis que, num repente, fica sem nada. Já não precisa de atravessar a geada para levantar bardos, regar poios, podar o corredor de vinha, afincar estacas, abrir regos e mantas, semear, ir à erva em atenção ao gado, rechear o gamelão, encaixar na molhelha a saca de batatas para fazer algum dinheiro. Sempre se contentou com uma sopa de couves e o tal belisco de pão, mas agora a Natureza, sempre tão bonita nesta Madeira, levou-lhe tudo. O homem do campo pede ajuda, sempre foi um bom homem. Digno com o fato da missa, ouve os fidalgos que o abordam no adro da igreja em tempo de votos, apesar de saber que depois nenhum desses casacas da cidade lhe dá uma fala.
Há ajudas prometidas de todo o lado. Mais do que as ofertas de 'umas roupas' do milionário Berardo, mais do que as verbas grotescas muito inferiores ao valor dos tempos de antena que elas proporcionaram a bancos que ganham muito na Madeira, mais do que essas e outras, há todo um País empenhado em ajudar. A União Europeia, muitos países. Até Timor, em retribuição do tostão que um dia lhe negaram.
A dúvida está no feitio dos homens. Se serão capazes de ultrapassar questões pessoais, políticas e partidárias para se lembrarem dos comerciantes em desgraça, de quem perdeu casa e carro, mas também dos camponeses que só não são 'vilões' durante as campanhas eleitorais. Perdemos 42 conterrâneos e aí não há auxílios que neutralizem os prejuízos no íntimo de todos nós. Ironicamente, a Madeira parece voltar à 'estaca zero'. A mais obras primárias - casas, estradas, pontes e correcção de ribeiras, falésias e encostas. Quando se falava de um novo ciclo, surge da tragédia novo fôlego para os abencerragens do jardinismo desenvolvimentista. O regresso dos falcões da construção.
Para chegar a todos, e depois do sucesso inconcebível na primeira semana de trabalhos, a reconstrução precisa da boa vontade dos homens. Já se percebeu que quem tem o poder de decisão faz ponto de honra em que toda a gente saiba quem é que manda. Resolvido o conflito com José Sócrates e o Governo Central, o presidente da Madeira acentuou estes dias que é preciso ter bem presente esse aspecto. Nas duas entrevistas em três dias que a RTP nacional lhe propiciou, para dizer o que quis e entendeu, o chefe do governo vincou vezes sem conta que é o 'coordenador das operações'. Que fez as estradas e as pontes que não caíram, em contraste com as da Madeira velha. Que vai reconstruir estradas e pontes. Que já deu ordens para alargar ribeiras aqui, altear muralhas naquela margem, abater a rotunda acoli, mudar de estrada para túnel além, substituir casas familiares por um bairro social na Serra de Água. Eu fiz, eu construí, eu faço, eu digo como é. Reconhecendo que o chefe manda e que tudo o que não seja dito pelo chefe é um 'delírio', mesmo dentro do PSD, apresentemos um singelo pedido. Que o chefe dê as suas ordens de maneira a que toda a gente perceba quem é que continua a mandar nisto, mas depois, sem que esteja em causa o seu talento pluriforme, deixe os especialistas elaborarem projectos e dirigirem as obras no terreno. E que o chefe só reapareça na inauguração, para o foguetório, 'seco' e espetada.
O povo já deve ter percebido que não deu bom resultado decidir 'planos de obras' no adro da igreja, como nas 'presidências abertas' dos anos 90. Os projectos enrolados em papel vegetal atirados para o lado e a escola mudada para a banda de cima por proposta da sra. Maria, mais a estrada desviada para o lado do ribeiro para fazer a vontade à família Freitas. A democracia directa é um ideal que precisa de regras. E o povo percebeu também as consequências de construir casa em qualquer encosta perigosa hasteando a bandeira do PSD aos primeiros blocos para que, à distância, o fiscal da Câmara veja o 'licenciamento'. A precipitação na Madeira dia 20 em qualquer caso faria grande desgraça, mas seria possível atenuar as consequências.
Os tempos mudaram e certamente, depois desta tragédia, não teremos uma governação nefelibata, distante da realidade do tempo novo. Já não é possível, por exemplo, esconder ao mundo o que por cá se passa. O povo até adoraria que se pusesse em debate a questão ambiental da Madeira, ouvindo até os 'teóricos da bica'. Cruzar todas as correntes de opinião podia ser importante, quem sabe se de entre os 'tontos fundamentalistas' não surgiria uma ideia que ao menos meresse discussão? O povo, nas suas cogitações angustiadas, aceita que o chefe do governo mande, mas que mande sem teimar em fazer tudo como fez antes só para contrariar os 'inimigos da Madeira'. Que os despreze, mas evite resultados como os que estão à vista. Até porque tratar de 'secções de ribeiras' e 'leitos de cheias' distrai da função política.
Mesmo para os adversários do determinismo, quando se trata da Natureza é difícil derrubar o princípio de que 'nas mesmas circunstâncias as mesmas causas produzem os mesmos efeitos'. Na sua sabedoria popular, o ora necessitado e fragilizado povo diz que 'os homens erram, os grandes homens reconhecem que erram'.
Luís Calisto
domingo, 28 de fevereiro de 2010
Jane Eyre - a reler!!
Morality:
Jane refuses to become Mr Rochester's paramour because of her "impassioned self-respect and moral conviction." She rejects St. John Rivers' Puritanism as much as the libertine aspects of Mr Rochester's character. Instead, she works out a morality expressed in love, independence, and forgiveness.
Religion:
Throughout the novel, Jane endeavours to attain an equilibrium between moral duty and earthly happiness. She despises the hypocritical puritanism of Mr. Brocklehurst, and rejects St. John Rivers' cold devotion to his Christian duty, but neither can she bring herself to emulate Helen Burns' turning the other cheek, although she admires Helen for it. Ultimately, she rejects these three extremes and finds a middle ground in which religion serves to curb her immoderate passions but does not repress her true self.
Social class:
Jane's ambiguous social position—a penniless yet moderately educated orphan from a good family—leads her to criticise discrimination based on class. Although she is educated, well-mannered, and relatively sophisticated, she is still a governess, a paid servant of low social standing, and therefore powerless. Nevertheless, Brontë possesses certain class prejudices herself, as is made clear when Jane has to remind herself that her unsophisticated village pupils at Morton "are of flesh and blood as good as the scions of gentlest genealogy."
Gender relations:
A particularly important theme in the novel is the depiction of a patriarchal society. Jane attempts to assert her own identity within male-dominated society. Three of the main male characters, Brocklehurst, Mr Rochester and St. John, try to keep Jane in a subordinate position and prevent her from expressing her own thoughts and feelings. Jane escapes Brocklehurst and rejects St. John, and she only marries Mr Rochester once she is sure that their marriage is one between equals. Through Jane, Brontë opposes Victorian stereotypes about women, articulating her own feminist philosophy:
Women are supposed to be very calm generally: but women feel just as men feel; they need exercise for their faculties, and a field for their efforts as much as their brothers do; they suffer from too rigid a restraint, too absolute a stagnation, precisely as men would suffer; and it is narrow-minded in their more privileged fellow-creatures to say that they ought to confine themselves to making puddings and knitting stockings, to playing on the piano and embroidering bags. It is thoughtless to condemn them, or laugh at them, if they seek to do more or learn more than custom has pronounced necessary for their sex. (Chapter XII)
Na foto: Ruth Wilson como Jane Eyre
Calamidade - sim ou não?
"Para a caracterização da Situação de Emergência ou de Estado de Calamidade Pública, faz-se necessário analisar os fatores preponderantes e os fatores agravantes.
Os critérios preponderantes estão relacionados com a intensidade dos danos (humanos, materiais e ambientais) e a ponderação dos prejuízos (sociais e econômicos). Para esta análise, não servem os critérios absolutos, baseados na visão subjetiva da pessoa. Não servem os modelos matemáticos, pois a realidade é extremamente complexa, com inúmeras variáveis relacionadas com o fenômeno e com o cenário e a vulnerabilidade das pessoas e instalações expostas, que interferem no impacto do desastre.
Nessa avaliação, buscam-se critérios relativos, que levam em conta o impacto sob a ótica da coletividade. É mais importante que pessoal, além de ser mais precisa, útil e racional. Pois do ponto de vista da pessoa atingida, todo desastre tem a mesma importância, avaliação que não deve ser considerada para classificá-lo.
Há que se fazer a análise das necessidade relacionadas com todos os recursos: humanos, materiais, institucionais e financeiros, comparando com a análise das disponibilidades relacionadas com esses mesmos recursos".
População do Chile - mais de 16000000 de habitantes;
Mortes causadas pelo terramoto - 700, até agora;
Prejuízos materiais - neste momento, ainda não contabilizados.
População da Madeira - um pouco mais de 246000;
Mortes causadas pela enxurrada - 42, até agora;
Prejuízos materiais - 1,4 mil milhões de euros.
Decretado o estado de calamidade no Chile, na Madeira não. Alguém sabe porquê?
sábado, 27 de fevereiro de 2010
Casas da Madeira
Já repararam que muitas (a maior parte, talvez) das casas destruídas parecem de construção recente?
Será que a Madeira já não tem (tal é o "progresso"...) casinhas velhas?
Ou talvez estas últimas, no passado, tenham sido construídas a uma distância respeitosa dos leitos das ribeiras?
Não conheço suficientemente bem a Madeira para saber ao certo.
Na Visão desta semana...
A possibilidade de ocorrer uma aluvião como a que assolou a Madeira, no sábado passado, bem como as formas de prevenir e minimizar os riscos deste tipo de fenómeno, constava de pelo menos quatro estudos técnicos e relatórios oficiais, elaborados nos últimos 17 anos.
O mais detalhado é um documento conjunto do Governo Regional e do Governo da República, financiado pela Comissão Europeia, datado de 2003: no Plano Regional da Água da Madeira (PRAN), concebido por mais de 50 técnicos, descrevia-se em pormenor o tipo de obras e intervenções que deveriam ser efectuadas, de modo a minorar o impacto das cheias repentinas.
Além do alargamento e limpeza regular dos leitos das ribeiras, era também sugerida a implementação de sistemas de vigilância e alerta de cheias, bem como a criação de albufeiras, bacias de retenção e estruturas de amortecimento das águas, ao longo dos cursos que rasgam as montanhas que abraçam o Funchal. Nada foi feito.
A engenheira civil Manuela Portela, professora do Instituto Superior Técnico e uma das autoras do PRAN, afirma que esta catástrofe era expectável: "A cheia é um fenómeno intrinsecamente natural. O que aconteceu é um problema de desordenamento do território - e de incúria."
A provar-se que houve negligência das autoridades, e que as mortes do passado sábado poderiam ter sido evitadas, os responsáveis do Governo Regional poderão ter de responder perante a Justiça. O coordenador regional do Ministério Público confirma que as autoridades estão já a investigar "a possível prática de um crime".
Alguém o reconhece?...
sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010
Vale a pena ler
IMPACTE AMBIENTAL PROVOCADO PELA CONSTRUÇÃO SUBTERRÂNEA NA BAIXA CITADINA DO FUNCHAL
ENVIRONMENTAL IMPACT DUE TOO UNDERGROUND CONSTRUCTION ON FUNCHAL DOWNTOWN
Silva, João Baptista, Centro de Investigação Minerais Industriais e Argilas, Universidade de Aveiro, Portugal, madeirarochas@netmadeira.com
Almeida, Fernando, ELMAS, Universidade de Aveiro, Portugal, falm@geo.ua.pt
Gomes, Celso, Centro de Investigação Minerais Industriais e Argilas, Universidade de Aveiro,Portugal, cgomes@geo.ua.pt
...Nas últimas duas décadas, na área referida foram realizadas dezenas de obras subterrâneas que envolveram, túneis e grandes escavações e desmonte de rocha e solo. As obras foram executadas em terrenos com áreas compreendidas entre 300 m2 e 10.000 m2, tendo as escavações atingido nalguns casos profundidades da ordem de 30 metros em relação à cota do solo actual, e servido para construção de caves, arrecadações e parques de estacionamento...
...A divulgação, desde já, dos factos referidos tem, como objectivo principal alertar as entidades competentes para um conjunto de situações que vêm sendo observadas a nível do ordenamento do território e que podem potenciar eventuais riscos naturais (como é o caso das cheias) por efeito da progressiva ocupação e impermeabilização do solo e do subsolo que tem ocorrido na baixa citadina do Funchal ao longo das duas últimas décadas, bem como para as implicações que essas mesmas situações estão a causar no património edificado.
Actualmente, não obstante existirem meios de previsão metereológica capazes de antever a ocorrência de cheias, nada garante que na cidade do Funchal não voltem a ocorrer cheias, eventualmente devastadores, em termos de bens e de vidas. Admitimos, que em iguais circunstâncias de intensidade e duração de chuva, como por exemplo as que verificaram de 28 para 29 de Outubro de 1993 (a precipitação variou então entre 89 a 210 litros por metro quadrado em menos de 24 horas), nas circunstâncias actuais, as consequências poderiam ser igualmente catastróficas...
Então que me diz a isto, sr. Alberto João? Se calhar, "alguma das suas"...
ENVIRONMENTAL IMPACT DUE TOO UNDERGROUND CONSTRUCTION ON FUNCHAL DOWNTOWN
Silva, João Baptista, Centro de Investigação Minerais Industriais e Argilas, Universidade de Aveiro, Portugal, madeirarochas@netmadeira.com
Almeida, Fernando, ELMAS, Universidade de Aveiro, Portugal, falm@geo.ua.pt
Gomes, Celso, Centro de Investigação Minerais Industriais e Argilas, Universidade de Aveiro,Portugal, cgomes@geo.ua.pt
...Nas últimas duas décadas, na área referida foram realizadas dezenas de obras subterrâneas que envolveram, túneis e grandes escavações e desmonte de rocha e solo. As obras foram executadas em terrenos com áreas compreendidas entre 300 m2 e 10.000 m2, tendo as escavações atingido nalguns casos profundidades da ordem de 30 metros em relação à cota do solo actual, e servido para construção de caves, arrecadações e parques de estacionamento...
...A divulgação, desde já, dos factos referidos tem, como objectivo principal alertar as entidades competentes para um conjunto de situações que vêm sendo observadas a nível do ordenamento do território e que podem potenciar eventuais riscos naturais (como é o caso das cheias) por efeito da progressiva ocupação e impermeabilização do solo e do subsolo que tem ocorrido na baixa citadina do Funchal ao longo das duas últimas décadas, bem como para as implicações que essas mesmas situações estão a causar no património edificado.
Actualmente, não obstante existirem meios de previsão metereológica capazes de antever a ocorrência de cheias, nada garante que na cidade do Funchal não voltem a ocorrer cheias, eventualmente devastadores, em termos de bens e de vidas. Admitimos, que em iguais circunstâncias de intensidade e duração de chuva, como por exemplo as que verificaram de 28 para 29 de Outubro de 1993 (a precipitação variou então entre 89 a 210 litros por metro quadrado em menos de 24 horas), nas circunstâncias actuais, as consequências poderiam ser igualmente catastróficas...
Então que me diz a isto, sr. Alberto João? Se calhar, "alguma das suas"...
Ainda...
Uma bofetada de luva branca
Data: 26-02-2010
Faço parte daquele enorme grupo de madeirenses que nunca esqueceu a arrogância do presidente do Governo Regional da Madeira quando, em 1999, disse: "Nem um tostão para Timor!" Fiquei ainda mais magoado quando, um ano depois, tive a oportunidade de visitar Timor-Leste integrado na comitiva que acompanhou o Presidente da República Jorge Sampaio em visita oficial. Vi casas destruídas, vi gente humilde, sem nada. Gente que ainda falava algum português, que pedia ajuda e que precisava mesmo dessa ajuda. E lembrava-me, nessa Díli ainda destroçada, do presidente do governo da minha ilha: "Nem um tostão para Timor!".
Agora que Timor começa a erguer-se mas revela ainda muitas fragilidades, é a nossa Madeira, a 'Singapura do Atlântico', a merecer a ajuda de fora. Ao contrário de mim, Ramos-Horta e Xanana Gusmão já esqueceram o que disse Jardim. E agora, em vez de nem um tostão para a Madeira, vejo com emoção um país bem mais pobre que a nossa rica Região a dizer: "100 mil contos para a Madeira!". Timor, um dos países mais pobres do mundo, desvia dos seus cidadãos 556 mil euros (ou 750 mil dólares) para ajudar a manter o bom nível de vida de uma Região que se apresenta com indicadores que a deixam como uma das mais ricas da União Europeia. E Timor não se limita a um tostão: oferece mais de dois euros a cada madeirense.
Sei que este não é o momento para tricas políticas. Que a hora é de trabalhar pela reconstrução, chorar os mortos e proteger os vivos. E, sinceramente, acho que estamos a fazer bem o que é possível fazer nesta altura. O Governo, as Câmaras, as Juntas, os Voluntários. Mas é difícil ficar insensível perante os contributos vindos de fora. Além dos efeitos práticos na reconstrução, a solidariedade de anónimos e as visitas dos 'cubanos' Sócrates e Cavaco e ainda o dinheiro do patrão do 'Pingo Doce' obrigam-nos não apenas a ter mais cuidado com o planeamento urbanístico como também a ter mais tento na língua. Nas desgraças é assim: hoje eles, amanhã nós.
Miguel Silva, Editor de Política
Data: 26-02-2010
Faço parte daquele enorme grupo de madeirenses que nunca esqueceu a arrogância do presidente do Governo Regional da Madeira quando, em 1999, disse: "Nem um tostão para Timor!" Fiquei ainda mais magoado quando, um ano depois, tive a oportunidade de visitar Timor-Leste integrado na comitiva que acompanhou o Presidente da República Jorge Sampaio em visita oficial. Vi casas destruídas, vi gente humilde, sem nada. Gente que ainda falava algum português, que pedia ajuda e que precisava mesmo dessa ajuda. E lembrava-me, nessa Díli ainda destroçada, do presidente do governo da minha ilha: "Nem um tostão para Timor!".
Agora que Timor começa a erguer-se mas revela ainda muitas fragilidades, é a nossa Madeira, a 'Singapura do Atlântico', a merecer a ajuda de fora. Ao contrário de mim, Ramos-Horta e Xanana Gusmão já esqueceram o que disse Jardim. E agora, em vez de nem um tostão para a Madeira, vejo com emoção um país bem mais pobre que a nossa rica Região a dizer: "100 mil contos para a Madeira!". Timor, um dos países mais pobres do mundo, desvia dos seus cidadãos 556 mil euros (ou 750 mil dólares) para ajudar a manter o bom nível de vida de uma Região que se apresenta com indicadores que a deixam como uma das mais ricas da União Europeia. E Timor não se limita a um tostão: oferece mais de dois euros a cada madeirense.
Sei que este não é o momento para tricas políticas. Que a hora é de trabalhar pela reconstrução, chorar os mortos e proteger os vivos. E, sinceramente, acho que estamos a fazer bem o que é possível fazer nesta altura. O Governo, as Câmaras, as Juntas, os Voluntários. Mas é difícil ficar insensível perante os contributos vindos de fora. Além dos efeitos práticos na reconstrução, a solidariedade de anónimos e as visitas dos 'cubanos' Sócrates e Cavaco e ainda o dinheiro do patrão do 'Pingo Doce' obrigam-nos não apenas a ter mais cuidado com o planeamento urbanístico como também a ter mais tento na língua. Nas desgraças é assim: hoje eles, amanhã nós.
Miguel Silva, Editor de Política
Xanana versus Alberto João
O Governo de Timor-Leste aprovou, ontem, o envio de 750 mil dólares norte-americanos (556 mil euros) para ajuda às vítimas da tragédia na Madeira.
A decisão do Executivo de Xanana Gusmão é justificada, em comunicado divulgado pela agência Lusa, como sendo um acto de solidariedade e apoio para com o povo e autoridades da Região. Antes, já o Presidente timorense, José Ramos-Horta, tinha enviado uma mensagem de condolências ao seu homólogo português.
"Nem um tostão" de Jardim
O gesto do Governo de Timor, independentemente do drama que afecta a Madeira, obriga a recordar declarações antigas em sentido contrário. Em Agosto de 1999, quando Timor era palco da destruição provocada pelas milícias pró-Indonésia e em todo o mundo se multiplicavam as manifestações de solidariedade e o envio de ajuda financeira, na Madeira, as posições oficiais foram diferentes.
De férias no Porto Santo, Alberto João Jardim garantiu que a Madeira não daria "um tostão" para Timor e que não admitia que o Estado português "mexesse" nas transferências a que a Região tinha direito. 'Nem um tostão para Timor' foi uma frase que provocou as mais duras reacções, em todo o País.
"A filosofia popular ensinou-me que cada um se deve governar por si", acrescentaria o presidente do Governo Regional, a 29 de Agosto de 1999.
Mais tarde, depois de muita polémica, na Região e no Continente, a Quinta da Vigia acabaria por emendar a mão, embora de forma simbólica. Jardim disse que nunca esteve contra a ajuda ao povo timorense, mas apenas que a Madeira não podia prescindir de dinheiro para esses apoios.
No dia em que se realizou, no Funchal, uma vigília de solidariedade para com o povo maubere, o Governo Regional prometeu aprovar uma ajuda financeira. Um apoio que se iria traduzir numa resolução em que eram aprovados cinco mil euros de ajuda. Uma verba que Jardim só admitia entregar às autoridades timorenses e não às entidades portuguesas que reuniam as ajudas.
A oposição regional não deixou passar sem comentário esta alteração de posições, como já fizera em relação à recusa de 'um tostão' para Timor. Mota Torres (PS) exigiu que Jardim pedisse desculpa pelo que tinha dito e José Manuel Rodrigues (CDS), concluiu que o líder do PSD se tinha "vergado" à opinião pública e prometeu estar "vigilante" para ver se a promessa era cumprida.
Depois, já em 2000, durante uma viagem oficial à volta do Mundo, o líder madeirense diria que nem os cinco mil euros iam para Timor.
A frase que gerou tanta polémica - "nem um tostão para Timor" - tem acompanhado Jardim, sempre que o tema é o País de Xanana Gusmão.
País muito pobre
Timor-Leste é um dos países mais pobres do mundo e continua, desde a independência, em Maio de 2002, numa fase de reconstrução e criação de infra-estruturas básicas.
Esta ajuda financeira para a reconstrução da Madeira, modesta se for vista no quadro das ajudas internacionais que deverão chegar, tem um significado maior quando vista à luz do orçamento do País.
Madeira gasta o dobro
Em 2009, o orçamento da República Democrática de Timor Lorosae foi de 902 milhões de dólares, pouco mais de 644 milhões de euros. Uma verba que é mais de duas vezes inferior ao orçamento da Região Autónoma da Madeira que é de cerca de 1.500 milhões de euros.
A título de curiosidade, a ajuda de 556 mil euros, ou 111 mil contos na moeda antiga, representa, 433 escudos por madeirense (256 mil habitantes), qualquer coisa como 4.330 tostões a cada um.
A decisão do Executivo de Xanana Gusmão é justificada, em comunicado divulgado pela agência Lusa, como sendo um acto de solidariedade e apoio para com o povo e autoridades da Região. Antes, já o Presidente timorense, José Ramos-Horta, tinha enviado uma mensagem de condolências ao seu homólogo português.
"Nem um tostão" de Jardim
O gesto do Governo de Timor, independentemente do drama que afecta a Madeira, obriga a recordar declarações antigas em sentido contrário. Em Agosto de 1999, quando Timor era palco da destruição provocada pelas milícias pró-Indonésia e em todo o mundo se multiplicavam as manifestações de solidariedade e o envio de ajuda financeira, na Madeira, as posições oficiais foram diferentes.
De férias no Porto Santo, Alberto João Jardim garantiu que a Madeira não daria "um tostão" para Timor e que não admitia que o Estado português "mexesse" nas transferências a que a Região tinha direito. 'Nem um tostão para Timor' foi uma frase que provocou as mais duras reacções, em todo o País.
"A filosofia popular ensinou-me que cada um se deve governar por si", acrescentaria o presidente do Governo Regional, a 29 de Agosto de 1999.
Mais tarde, depois de muita polémica, na Região e no Continente, a Quinta da Vigia acabaria por emendar a mão, embora de forma simbólica. Jardim disse que nunca esteve contra a ajuda ao povo timorense, mas apenas que a Madeira não podia prescindir de dinheiro para esses apoios.
No dia em que se realizou, no Funchal, uma vigília de solidariedade para com o povo maubere, o Governo Regional prometeu aprovar uma ajuda financeira. Um apoio que se iria traduzir numa resolução em que eram aprovados cinco mil euros de ajuda. Uma verba que Jardim só admitia entregar às autoridades timorenses e não às entidades portuguesas que reuniam as ajudas.
A oposição regional não deixou passar sem comentário esta alteração de posições, como já fizera em relação à recusa de 'um tostão' para Timor. Mota Torres (PS) exigiu que Jardim pedisse desculpa pelo que tinha dito e José Manuel Rodrigues (CDS), concluiu que o líder do PSD se tinha "vergado" à opinião pública e prometeu estar "vigilante" para ver se a promessa era cumprida.
Depois, já em 2000, durante uma viagem oficial à volta do Mundo, o líder madeirense diria que nem os cinco mil euros iam para Timor.
A frase que gerou tanta polémica - "nem um tostão para Timor" - tem acompanhado Jardim, sempre que o tema é o País de Xanana Gusmão.
País muito pobre
Timor-Leste é um dos países mais pobres do mundo e continua, desde a independência, em Maio de 2002, numa fase de reconstrução e criação de infra-estruturas básicas.
Esta ajuda financeira para a reconstrução da Madeira, modesta se for vista no quadro das ajudas internacionais que deverão chegar, tem um significado maior quando vista à luz do orçamento do País.
Madeira gasta o dobro
Em 2009, o orçamento da República Democrática de Timor Lorosae foi de 902 milhões de dólares, pouco mais de 644 milhões de euros. Uma verba que é mais de duas vezes inferior ao orçamento da Região Autónoma da Madeira que é de cerca de 1.500 milhões de euros.
A título de curiosidade, a ajuda de 556 mil euros, ou 111 mil contos na moeda antiga, representa, 433 escudos por madeirense (256 mil habitantes), qualquer coisa como 4.330 tostões a cada um.
quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010
quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010
Gaffes na ex pérola do Atlântico
1 - Alberto João Jardim explicou ao Chefe de Estado que no concelho do Funchal as zonas mais atingidas pela tromba de água são Santo António, Monte e as zonas baixas, prometendo a Cavaco Silva resolver a situação de acordo com o "interesse público e não para agradar a teóricos".
2 - "Os portugueses estão convosco. Os portugueses devem unir-se à volta dos madeirenses", foi a última mensagem que Cavaco Silva deixou antes de abandonar o território, garantindo que os portugueses "não vos esquecerão".
Gaffe 1 - Que quer o sr Alberto João dizer com isto? temo que seja que vai continuar a não fazer nenhum caso do que dizem os "teóricos", como por exemplo os "canalhas" da Quercus, e os "cientistas loucos" da Universidade de Aveiro (por exemplo).
Responde-se ao sr. Alberto João que ser rico é bom, mas estar vivo é melhor ainda e que aliás uma condição necessária para se ser rico é estar vivo, obviamente.
Gaffe 2 - Então sr. Presidente da República, os madeirenses (e já agora os açorianos...) não são portugueses? Hummm...que perspectiva interessante...
2 - "Os portugueses estão convosco. Os portugueses devem unir-se à volta dos madeirenses", foi a última mensagem que Cavaco Silva deixou antes de abandonar o território, garantindo que os portugueses "não vos esquecerão".
Gaffe 1 - Que quer o sr Alberto João dizer com isto? temo que seja que vai continuar a não fazer nenhum caso do que dizem os "teóricos", como por exemplo os "canalhas" da Quercus, e os "cientistas loucos" da Universidade de Aveiro (por exemplo).
Responde-se ao sr. Alberto João que ser rico é bom, mas estar vivo é melhor ainda e que aliás uma condição necessária para se ser rico é estar vivo, obviamente.
Gaffe 2 - Então sr. Presidente da República, os madeirenses (e já agora os açorianos...) não são portugueses? Hummm...que perspectiva interessante...
Hummm...
As autoridades já retiraram 50 milhões de litros de água do interior do parque de estacionamento do Shopping Anadia, no Funchal, e a máquina retoma esta manhã a laboração.
Segundo fonte da Protecção Civil, o piso está assente sobre uma zona de nascente de uma ribeira e, quando a máquina esteve parada, desde a madrugada de hoje, o “nível de água subiu 25 centímetros”.
Raio de sítio para se construir um shopping e mais o respectivo estacionamento subterrâneo.
Cada um que conclua.
Segundo fonte da Protecção Civil, o piso está assente sobre uma zona de nascente de uma ribeira e, quando a máquina esteve parada, desde a madrugada de hoje, o “nível de água subiu 25 centímetros”.
Raio de sítio para se construir um shopping e mais o respectivo estacionamento subterrâneo.
Cada um que conclua.
Ironia
terça-feira, 23 de fevereiro de 2010
Canalhices - mas onde?
Ribeiras ainda são depósitos de lixo e esgotos
Infelizmente as ribeiras não têm tido o respeito que merecem, necessitando muitas vezes de o conquistar à força com os seus caudais periodicamente torrenciais. Apesar da evolução e sensibilidade que a nossa sociedade tem desenvolvido nos últimos anos relativamente às questões ambientais, as linhas de água (ribeiras e cursos de água mais pequenos) continuam a ser muito utilizadas para despejos de lixos, terras, entulhos e esgotos.
Apesar de todo o trabalho que a Câmara Municipal já tentou desenvolver, as ribeiras do Funchal continuam cheias de lixo, situação particularmente visível após as grandes chuvadas que o espalham ao longo de todo o seu percurso até ao mar. Ao percorrer a margem das ribeiras do Funchal, desde a foz até à nascente, a Quercus tem observado a presença de resíduos e esgotos em quantidades preocupantes. Um exemplo muito concreto é a ribeira de São João onde, particularmente na zona da estrada do Max (acima do Tecnópolo), podemos constatar claramente este tipo de situações. Mais para nascente podemos também observar a deposição de entulhos e terras. Estes cenários que já deveriam estar erradicados há muito tempo não são exclusivos dos cursos principais ocorrendo também nos ribeiros afluentes e até em algumas levadas.
O trabalho de sensibilização das populações e a fiscalização e aplicação de coimas tem de ser reforçado por parte da Câmara Municipal do Funchal de modo a minimizar este problema. Estamos a assistir a um retrocesso inadmissível no que diz respeito à poluição das ribeiras, em que os primeiros responsáveis são os cidadãos que insistem em não respeitar o ambiente e o bem público (e os segundos são os governantes que não tomam medidas - este itálico é meu).
Para além dos problemas ambientais provocados directamente nas nossas linhas de água, esta poluição, em particular os plásticos, chega ao mar e aí também tem consequências muito graves. Recordamos que cerca de 90% das tartarugas marinhas encontradas mortas na Madeira contêm plásticos no seu sistema digestivo. Um saco de plástico pode facilmente ser confundido com uma medusa e ser ingerido por uma tartaruga marinha levando a que morra de fome devido à obstrução do seu sistema digestivo. Para além da ingestão por confusão com os seus alimentos, os resíduos no mar, com destaque para os fios, plásticos e restos de redes, podem ainda se entalar em peixes, tartarugas e golfinhos originando amputações ou levando-os à morte por asfixia.
Todos estes lixos que chegam ao mar, através das ribeiras ou abandonados directamente, também têm efeitos na qualidade balnear e poluição das praias.
Na Madeira, as ribeiras são os principais locais onde a presença de água doce permite o desenvolvimento de um ecossistema próprio com o correspondente conjunto de espécies características. A inexistência de lagos e rios fazem destes cursos de água as únicas zonas húmidas que possuímos, sublinhando assim a sua importância como ecossistemas a salvaguardar.
As ribeiras são locais muito importantes para um grande conjunto de seres vivos. Uma das espécies que se destaca neste ecossistema aquático é a Enguia (Anguilla anguilla), conhecido popularmente por "iró". A foz das ribeiras são espaços muito frequentados por juvenis de água salgada que encontram aqui um berço mais seguro, embora, deparem-se algumas vezes com aves migratórias que procuram alimento. Na verdade, as ribeiras têm uma grande importância para as aves de arribação. Menos vistosos são os insectos que fazem parte deste ecossistema, mas no entanto contribuem em muito para a sua riqueza. Podemos observar ainda uma ave indígena (Lavandeira – Motacilla cinerea schmitzi) que faz das ribeiras o seu habitat.
As ribeiras são claramente zonas de risco que devem ser respeitadas como ecossistemas providos de fauna e flora característicos. Não podemos olhar para estes espaços naturais como simples canais de escoamento de água. A sua importância no equilíbrio ambiental e no ordenamento do território é vital. A degradação e descaracterização dos cursos de água da Ilha da Madeira é uma das situações que compromete fortemente o desenvolvimento da Região.
A protecção destes espaços cada vez menos naturais deve ser entendida, numa perspectiva de ordenamento do território, como locais privilegiados para o desenvolvimento de zonas verdes.
Núcleo Regional da Quercus na Madeira
Funchal, 4 de Junho de 2008
Esta e outras observações, nomeadamente respeitantes ao ordenamento do território, já tinham sido feitas pela Quercus em data bem anterior ao último desastre. Onde é que está o aproveitamento político da desgraça alheia, onde é que está a canalhice, sr. Alberto João?
Seja Deus quem nos valha!!
Infelizmente as ribeiras não têm tido o respeito que merecem, necessitando muitas vezes de o conquistar à força com os seus caudais periodicamente torrenciais. Apesar da evolução e sensibilidade que a nossa sociedade tem desenvolvido nos últimos anos relativamente às questões ambientais, as linhas de água (ribeiras e cursos de água mais pequenos) continuam a ser muito utilizadas para despejos de lixos, terras, entulhos e esgotos.
Apesar de todo o trabalho que a Câmara Municipal já tentou desenvolver, as ribeiras do Funchal continuam cheias de lixo, situação particularmente visível após as grandes chuvadas que o espalham ao longo de todo o seu percurso até ao mar. Ao percorrer a margem das ribeiras do Funchal, desde a foz até à nascente, a Quercus tem observado a presença de resíduos e esgotos em quantidades preocupantes. Um exemplo muito concreto é a ribeira de São João onde, particularmente na zona da estrada do Max (acima do Tecnópolo), podemos constatar claramente este tipo de situações. Mais para nascente podemos também observar a deposição de entulhos e terras. Estes cenários que já deveriam estar erradicados há muito tempo não são exclusivos dos cursos principais ocorrendo também nos ribeiros afluentes e até em algumas levadas.
O trabalho de sensibilização das populações e a fiscalização e aplicação de coimas tem de ser reforçado por parte da Câmara Municipal do Funchal de modo a minimizar este problema. Estamos a assistir a um retrocesso inadmissível no que diz respeito à poluição das ribeiras, em que os primeiros responsáveis são os cidadãos que insistem em não respeitar o ambiente e o bem público (e os segundos são os governantes que não tomam medidas - este itálico é meu).
Para além dos problemas ambientais provocados directamente nas nossas linhas de água, esta poluição, em particular os plásticos, chega ao mar e aí também tem consequências muito graves. Recordamos que cerca de 90% das tartarugas marinhas encontradas mortas na Madeira contêm plásticos no seu sistema digestivo. Um saco de plástico pode facilmente ser confundido com uma medusa e ser ingerido por uma tartaruga marinha levando a que morra de fome devido à obstrução do seu sistema digestivo. Para além da ingestão por confusão com os seus alimentos, os resíduos no mar, com destaque para os fios, plásticos e restos de redes, podem ainda se entalar em peixes, tartarugas e golfinhos originando amputações ou levando-os à morte por asfixia.
Todos estes lixos que chegam ao mar, através das ribeiras ou abandonados directamente, também têm efeitos na qualidade balnear e poluição das praias.
Na Madeira, as ribeiras são os principais locais onde a presença de água doce permite o desenvolvimento de um ecossistema próprio com o correspondente conjunto de espécies características. A inexistência de lagos e rios fazem destes cursos de água as únicas zonas húmidas que possuímos, sublinhando assim a sua importância como ecossistemas a salvaguardar.
As ribeiras são locais muito importantes para um grande conjunto de seres vivos. Uma das espécies que se destaca neste ecossistema aquático é a Enguia (Anguilla anguilla), conhecido popularmente por "iró". A foz das ribeiras são espaços muito frequentados por juvenis de água salgada que encontram aqui um berço mais seguro, embora, deparem-se algumas vezes com aves migratórias que procuram alimento. Na verdade, as ribeiras têm uma grande importância para as aves de arribação. Menos vistosos são os insectos que fazem parte deste ecossistema, mas no entanto contribuem em muito para a sua riqueza. Podemos observar ainda uma ave indígena (Lavandeira – Motacilla cinerea schmitzi) que faz das ribeiras o seu habitat.
As ribeiras são claramente zonas de risco que devem ser respeitadas como ecossistemas providos de fauna e flora característicos. Não podemos olhar para estes espaços naturais como simples canais de escoamento de água. A sua importância no equilíbrio ambiental e no ordenamento do território é vital. A degradação e descaracterização dos cursos de água da Ilha da Madeira é uma das situações que compromete fortemente o desenvolvimento da Região.
A protecção destes espaços cada vez menos naturais deve ser entendida, numa perspectiva de ordenamento do território, como locais privilegiados para o desenvolvimento de zonas verdes.
Núcleo Regional da Quercus na Madeira
Funchal, 4 de Junho de 2008
Esta e outras observações, nomeadamente respeitantes ao ordenamento do território, já tinham sido feitas pela Quercus em data bem anterior ao último desastre. Onde é que está o aproveitamento político da desgraça alheia, onde é que está a canalhice, sr. Alberto João?
Seja Deus quem nos valha!!
E por cá, como vai a nossa memória?
http://www.acorestube.com/video/1028/Cheias-Povoação-1996
(Para a refrescar...)
(Para a refrescar...)
segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010
Aprenderam??
Madeira, 29 de Outubro de 1993
...Perderam-se 8 vidas. Inúmeros desalojados (criou-se um bairro com várias dezenas de casas para estes em pouco tempo). Um dos corpos foi encontrado semanas depois...na costa da ilha Deserta Grande. Carros a serem levados como brinquedos para o mar. Uma mágoa ver a nossa cidade desta forma. Durante quase 15 dias as escolas do Funchal encerraram até que fosse reposto o reabestecimento de água.
Os madeirenses aprenderam uma lição. Todos, inclusivé os governantes. Agora as ribeiras são limpas embora em alguns locais se insista em diminuir as larguras da ribeira devido às novas obras. Não quero imaginar isto novamente. Que o 29 de Outubro de 93 seja apenas mais uma memória...
Madeira, 20 de Fevereiro de 2010: parece que não aprenderam, afinal.
Quantos terão de morrer até que se aprenda?
...Perderam-se 8 vidas. Inúmeros desalojados (criou-se um bairro com várias dezenas de casas para estes em pouco tempo). Um dos corpos foi encontrado semanas depois...na costa da ilha Deserta Grande. Carros a serem levados como brinquedos para o mar. Uma mágoa ver a nossa cidade desta forma. Durante quase 15 dias as escolas do Funchal encerraram até que fosse reposto o reabestecimento de água.
Os madeirenses aprenderam uma lição. Todos, inclusivé os governantes. Agora as ribeiras são limpas embora em alguns locais se insista em diminuir as larguras da ribeira devido às novas obras. Não quero imaginar isto novamente. Que o 29 de Outubro de 93 seja apenas mais uma memória...
Madeira, 20 de Fevereiro de 2010: parece que não aprenderam, afinal.
Quantos terão de morrer até que se aprenda?
Que se esperava?
domingo, 21 de fevereiro de 2010
A natureza ainda é a mais forte
No entender do responsável pela Quercus, a “situação catastrófica” que se vive actualmente no Funchal e em alguns concelhos limítrofes devido às fortes chuvas é também consequência das “construções junto aos leitos das linhas de água, dos lixos, terras e entulhos que têm sido despejadas dentro das ribeiras e da impermeabilização cada vez maior dos solos”.
Por causa das nossas parvoíces, já morreram quarenta.
sábado, 20 de fevereiro de 2010
Pedras (sob um outro aspecto)
Sou feliz proprietária de uma casa todinha feita de pedras. Escondidas muitas delas pelo reboco na reconstrução, um número significativo ficou porém à vista de todos, acrescentando beleza à rigidez da construção, na voluptuosidade do contraste entre o cinza escuro do basalto e o branco da tinta. Nomeadamente, escadas de pedra tenho duas, uma no interior, outra no exterior; os pátios exteriores também apresentam belas lajes do mesmo material, bem como calçada portuguesa - que também não desmerece.
Onde fui buscar tantos luxos?? Pois...as escadas, já existiam no velho pardieiro, só tiveram de ser limpas, mas os pátios foram orgulhosamente por mim criados com as pedras existentes na adega do rés do chão; retiradas cuidadosamente uma por uma, com mil recomendações ao pedreiros, não se partiu nem estragou uma que fosse! Façanha notável, se pensarmos que a obra, essa, estava ser dirigida por alguém sem qualquer formação técnica e realizada por pedreiros habituados aos caixotes de betão.
Onde se demonstra que querer é poder, mas também que a modéstia excessiva não é um dos meus defeitos, já se vê.
Acabada a obra bruta, o jacto de água fortíssimo do compressor desencrustou as mazelas, foram feitos os remates e retoques e a tinta foi aplicada, gritante de tão branca.
Os anos passaram, as sujidades cairam sobre as pedras, os musgos e os limos desenvolveram-se sobretudo nas zonas voltadas ao norte, facto que constitui método aliás fiável de orientação, que os livros de geografia não descrevem porém.
Tendo vassoura e sabão exibido a sua fraca eficiência, perguntei a este e àquele como haveria de limpar tudo aquilo, com certa pena dos musgos tão bonitinhos mas afinal escorregadios e consequentemente perigosos para a integridade dos esqueletos dos eventuais visitantes. Pedreiros disseram-me (era de esperar): jacto de água, senhora! Amigos disseram-me: lixívia, minha amiga! Um engenheiro agrónomo recomendou-me um algicida a pulverizar.
Todas estas soluções consideradas problemáticas (o agressivo jacto de água forçar-me-ia a repintar todo o exterior da casa; e quanto à lixívia e ao algicida...bem, eu talvez porque a minha formação básica é em química o certo é que fujo o mais possível a produtos químicos...) durante algum tempo fiquei-me por maldizer a minha impotência face aos fenómenos naturais.
Até que peguei numa pequenina escova de arame, própria para a limpeza de sapatos de camurça, e num dia chuvoso, experimentei...
Um pequeno milagre desenvolveu-se então em círculo; a água escorria verde, as paredes de novo brancas como a neve que nesta terra não cai, as pedras a readquirir a cor cinzenta escura dos dias em que a lava arrefeceu.
E foi então que me armei de uma bateria de instrumentos mais apropriados: espátula, para um primeiro ataque; escova de arame, para os degraus; piaçaba, para as paredes; água com detergente para os retoques finais, a inevitável mangueira de jardim e claro! os músculos que Deus me deu, muito provavalmente para serem utilizados.
Em certos locais, onde o perigo de deslizamentos era inexistente, deixei ficar os bonitos musgos de veludo e as carepas da pedra, tão lindas que são. Mesmo por que arrancá-los de onde não prejudicam ninguém?
E assim comecei e continuo as limpezas de primavera, com sucesso total.
A quem quiser experimentar o afinal velho método, recomendo cuidado com os nós dos dedos, sem o qual na água de lavagem o verde se misturará inevitavelmente ao vermelho (o que já pude constatar em primeira pessoa) e ah! não esquecer que tudo isto deve ser feito, de preferência, debaixo de chuva, quanto mais torrencial melhor.
Alguns preferirão frequentar as classes de ginástica de manutenção, bem sei.
quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010
Pedras
Pedras, material nobre para construção. Uns talharam-nas e afeiçoaram-nas laboriosamente no passado, lubrificando os escopros e os martelos tão somente com o suor que lhes escorria do rosto no esforço duríssimo. Outros, hoje, eivados de vários execráveis "ismos" como facilitismo, despachismo, novo-riquismo - levam-nas à serra circular, onde a coroa de bicos é constelada por pedaços de diamante e o constante jacto de água combate o intenso calor libertado. Assim se obtém as chapas de pedra serrada, que não deixa de ser pedra mas pedra por onde as máquinas passaram, deixando por vezes bem visíveis as marcas das suas garras, e a mão do homem muito pouco.
Mais grave do que simplesmente serrar pedra e utilizar um elemento arquitectural moderno num ambiente antigo é mandar, porém, serrar pedra já de si trabalhada à mão.
Onde se constata que os subsídios da União Europeia podem ser perniciosos, afinal, e que as máquinas tanto podem construir como destruir, isto quando comandadas por cabeças deslumbradas com o seu novo poder.
Assim vai Portugal, assim vão os Açores.
1ª imagem: escada moderna, de pedra serrada;
2ª imagem: pedras de cantaria manual na igreja da Lomba da Fazenda, onde no adro e escadaria vão ser agora substituídas por chapas de pedra serrada.
Saudade...
quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010
Mãezinha...
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