sábado, 20 de fevereiro de 2010

Pedras (sob um outro aspecto)


Sou feliz proprietária de uma casa todinha feita de pedras. Escondidas muitas delas pelo reboco na reconstrução, um número significativo ficou porém à vista de todos, acrescentando beleza à rigidez da construção, na voluptuosidade do contraste entre o cinza escuro do basalto e o branco da tinta. Nomeadamente, escadas de pedra tenho duas, uma no interior, outra no exterior; os pátios exteriores também apresentam belas lajes do mesmo material, bem como calçada portuguesa - que também não desmerece.

Onde fui buscar tantos luxos?? Pois...as escadas, já existiam no velho pardieiro, só tiveram de ser limpas, mas os pátios foram orgulhosamente por mim criados com as pedras existentes na adega do rés do chão; retiradas cuidadosamente uma por uma, com mil recomendações ao pedreiros, não se partiu nem estragou uma que fosse! Façanha notável, se pensarmos que a obra, essa, estava ser dirigida por alguém sem qualquer formação técnica e realizada por pedreiros habituados aos caixotes de betão.

Onde se demonstra que querer é poder, mas também que a modéstia excessiva não é um dos meus defeitos, já se vê.

Acabada a obra bruta, o jacto de água fortíssimo do compressor desencrustou as mazelas, foram feitos os remates e retoques e a tinta foi aplicada, gritante de tão branca.

Os anos passaram, as sujidades cairam sobre as pedras, os musgos e os limos desenvolveram-se sobretudo nas zonas voltadas ao norte, facto que constitui método aliás fiável de orientação, que os livros de geografia não descrevem porém.

Tendo vassoura e sabão exibido a sua fraca eficiência, perguntei a este e àquele como haveria de limpar tudo aquilo, com certa pena dos musgos tão bonitinhos mas afinal escorregadios e consequentemente perigosos para a integridade dos esqueletos dos eventuais visitantes. Pedreiros disseram-me (era de esperar): jacto de água, senhora! Amigos disseram-me: lixívia, minha amiga! Um engenheiro agrónomo recomendou-me um algicida a pulverizar.

Todas estas soluções consideradas problemáticas (o agressivo jacto de água forçar-me-ia a repintar todo o exterior da casa; e quanto à lixívia e ao algicida...bem, eu talvez porque a minha formação básica é em química o certo é que fujo o mais possível a produtos químicos...) durante algum tempo fiquei-me por maldizer a minha impotência face aos fenómenos naturais.

Até que peguei numa pequenina escova de arame, própria para a limpeza de sapatos de camurça, e num dia chuvoso, experimentei...
Um pequeno milagre desenvolveu-se então em círculo; a água escorria verde, as paredes de novo brancas como a neve que nesta terra não cai, as pedras a readquirir a cor cinzenta escura dos dias em que a lava arrefeceu.
E foi então que me armei de uma bateria de instrumentos mais apropriados: espátula, para um primeiro ataque; escova de arame, para os degraus; piaçaba, para as paredes; água com detergente para os retoques finais, a inevitável mangueira de jardim e claro! os músculos que Deus me deu, muito provavalmente para serem utilizados.

Em certos locais, onde o perigo de deslizamentos era inexistente, deixei ficar os bonitos musgos de veludo e as carepas da pedra, tão lindas que são. Mesmo por que arrancá-los de onde não prejudicam ninguém?

E assim comecei e continuo as limpezas de primavera, com sucesso total.

A quem quiser experimentar o afinal velho método, recomendo cuidado com os nós dos dedos, sem o qual na água de lavagem o verde se misturará inevitavelmente ao vermelho (o que já pude constatar em primeira pessoa) e ah! não esquecer que tudo isto deve ser feito, de preferência, debaixo de chuva, quanto mais torrencial melhor.

Alguns preferirão frequentar as classes de ginástica de manutenção, bem sei.

2 comentários:

  1. eheh. a parte dos nós dos dedos até me fez arrepiar

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  2. Mas olha que é bem fácil de acontecer!
    Aconteceu-me - só no princípio, claro.

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