Ribeiras ainda são depósitos de lixo e esgotos
Infelizmente as ribeiras não têm tido o respeito que merecem, necessitando muitas vezes de o conquistar à força com os seus caudais periodicamente torrenciais. Apesar da evolução e sensibilidade que a nossa sociedade tem desenvolvido nos últimos anos relativamente às questões ambientais, as linhas de água (ribeiras e cursos de água mais pequenos) continuam a ser muito utilizadas para despejos de lixos, terras, entulhos e esgotos.
Apesar de todo o trabalho que a Câmara Municipal já tentou desenvolver, as ribeiras do Funchal continuam cheias de lixo, situação particularmente visível após as grandes chuvadas que o espalham ao longo de todo o seu percurso até ao mar. Ao percorrer a margem das ribeiras do Funchal, desde a foz até à nascente, a Quercus tem observado a presença de resíduos e esgotos em quantidades preocupantes. Um exemplo muito concreto é a ribeira de São João onde, particularmente na zona da estrada do Max (acima do Tecnópolo), podemos constatar claramente este tipo de situações. Mais para nascente podemos também observar a deposição de entulhos e terras. Estes cenários que já deveriam estar erradicados há muito tempo não são exclusivos dos cursos principais ocorrendo também nos ribeiros afluentes e até em algumas levadas.
O trabalho de sensibilização das populações e a fiscalização e aplicação de coimas tem de ser reforçado por parte da Câmara Municipal do Funchal de modo a minimizar este problema. Estamos a assistir a um retrocesso inadmissível no que diz respeito à poluição das ribeiras, em que os primeiros responsáveis são os cidadãos que insistem em não respeitar o ambiente e o bem público (e os segundos são os governantes que não tomam medidas - este itálico é meu).
Para além dos problemas ambientais provocados directamente nas nossas linhas de água, esta poluição, em particular os plásticos, chega ao mar e aí também tem consequências muito graves. Recordamos que cerca de 90% das tartarugas marinhas encontradas mortas na Madeira contêm plásticos no seu sistema digestivo. Um saco de plástico pode facilmente ser confundido com uma medusa e ser ingerido por uma tartaruga marinha levando a que morra de fome devido à obstrução do seu sistema digestivo. Para além da ingestão por confusão com os seus alimentos, os resíduos no mar, com destaque para os fios, plásticos e restos de redes, podem ainda se entalar em peixes, tartarugas e golfinhos originando amputações ou levando-os à morte por asfixia.
Todos estes lixos que chegam ao mar, através das ribeiras ou abandonados directamente, também têm efeitos na qualidade balnear e poluição das praias.
Na Madeira, as ribeiras são os principais locais onde a presença de água doce permite o desenvolvimento de um ecossistema próprio com o correspondente conjunto de espécies características. A inexistência de lagos e rios fazem destes cursos de água as únicas zonas húmidas que possuímos, sublinhando assim a sua importância como ecossistemas a salvaguardar.
As ribeiras são locais muito importantes para um grande conjunto de seres vivos. Uma das espécies que se destaca neste ecossistema aquático é a Enguia (Anguilla anguilla), conhecido popularmente por "iró". A foz das ribeiras são espaços muito frequentados por juvenis de água salgada que encontram aqui um berço mais seguro, embora, deparem-se algumas vezes com aves migratórias que procuram alimento. Na verdade, as ribeiras têm uma grande importância para as aves de arribação. Menos vistosos são os insectos que fazem parte deste ecossistema, mas no entanto contribuem em muito para a sua riqueza. Podemos observar ainda uma ave indígena (Lavandeira – Motacilla cinerea schmitzi) que faz das ribeiras o seu habitat.
As ribeiras são claramente zonas de risco que devem ser respeitadas como ecossistemas providos de fauna e flora característicos. Não podemos olhar para estes espaços naturais como simples canais de escoamento de água. A sua importância no equilíbrio ambiental e no ordenamento do território é vital. A degradação e descaracterização dos cursos de água da Ilha da Madeira é uma das situações que compromete fortemente o desenvolvimento da Região.
A protecção destes espaços cada vez menos naturais deve ser entendida, numa perspectiva de ordenamento do território, como locais privilegiados para o desenvolvimento de zonas verdes.
Núcleo Regional da Quercus na Madeira
Funchal, 4 de Junho de 2008
Esta e outras observações, nomeadamente respeitantes ao ordenamento do território, já tinham sido feitas pela Quercus em data bem anterior ao último desastre. Onde é que está o aproveitamento político da desgraça alheia, onde é que está a canalhice, sr. Alberto João?
Seja Deus quem nos valha!!
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