segunda-feira, 13 de abril de 2009

Uma história do Bailundo

Bailundo é uma cidade e município da província do Huambo, em Angola, localizada em pleno planalto central. Tem 7 065 km² e cerca de 56 mil habitantes. É limitado a Norte pelos municípios de Waku Kungo e Andulo, a Este pelos municípios de Mungo, Cunhinga e Chinguar, a Sul pelos municípios de Catchiungo, Tchicala Tcholoanga e Huambo, e a Oeste pelos municípios de Ekunha, Londuimbale e Cassongue. É constituído pelas comunas de Bailundo, Lunge, Luvemba, Bimbe e Hengue.

À região do Bailundo foi dado o nome do primeiro soberano, que vindo do norte da colónia, fundou e reinou durante muitos anos naquilo que foi o maior, mais poderoso e influente reino da colónia. Todos os outros reinos o olhavam com o maior respeito e admiração. A embala (casa grande), sede do Soma (monarca) situava-se na localidade hoje designada de Bailundo. O Reino do Bailundo foi sucessivamente atacado pelas tropas portuguesas durante séculos, tendo os mais conhecidos suseranos que ali reinaram resistido às confrontações militares até ao ano de 1896, altura em que o jovem capitão Justino Teixeira da Silva, transferido do Bié, onde fora também responsabilizado pela morte prematura do Capitão-mor Silva Porto, acabou por derrotar o Rei Numa II que acabara de suceder a Ekwikwi, e ali se instalou. A vila veio a ser denominada de Teixeira da Silva, tendo retomado o nome anterior de Bailundo após a independência nacional em 1975. Durante a guerra civil dos anos 90 esteve aqui instalado o quartel-general da UNITA.


A presente história teve lugar num edifício, de que não encontrei foto: o hospital do Bailundo, que seria mais um Centro de Saúde, mas a que chamávamos "Hospital".

Fui à consulta, no dito. Várias pessoas à espera, chegou uma branca, à frente de todos passou, o que já me deixou indisposta e na situação incómoda de não poder agradecer uma benesse que me contrariava sobremaneira. Nesses tempos eu era jovem (já o fui!) e não consegui dizer o que diria hoje: estes senhores e senhoras estão primeiro do que eu - e entrei para o consultório, com o dia estragado, é claro.

O médico era um indivíduo metropolitano dos seus quarenta e tal anos - escusado será dizer-se que eu, com vinte, o considerava um velho asqueroso - e ao ver entrar uma moça nova e bonitinha (ma non troppo...) tratou logo de abrir uma imensa cauda de pavão, conversando de mil e um assuntos excepto aquele que ali me levava, contando mil histórias em que, já se vê, desempenhava o papel de herói. Já contrariada de antemão, mais ainda com todo aquele aparato, lá ia dizendo monossílabos a propósito. E eis que ele me pede muita desculpa, mas que tinha de terminar e enviar uma carta urgentíssima! Baixei a cabeça em anuência. Terminou a carta, assinou com um grande rabisco floreado e chamou um cipaio (cipaio é outra coisa, mas ali exercia mais ou menos as funções de contínuo e mandarete) para a ir levar ao correio.

O cipaio entrou, era um preto velho, de cabeleira bastante branca (o que é raro nos pretos, mesmo idosos) e feição impassível. Qual não é o meu espanto quando o senhor doutor lhe manda botar a língua de fora, lhe passa o sobrescrito sobre a mesma e o fecha, entregando-lho a seguir! Ainda bem que os sobrescritos actuais, que até já nem são muito usados, não se prestam a ignomínia tamanha. Feita de fel e vinagre, nem bem acreditando nos meus próprios olhos, já queria era sair dali para fora o mais depressa possível. O doutor mostrou-se muito amável comigo, então minha menina, qual é o seu problema? Na verdade o meu problema era ter conhecido um idiota cara de asno, mas limitei-me a alegar dores de cabeça constantes e a safar-me dali o mais rápido que pude. Deus permita que eu nunca adoeça a sério nesta terra! E saí com uma receita de analgésicos que amarrotei e deitei no lixo mal me apanhei no exterior.

Cá fora o sol do Bailundo queimava impiedoso, mas não fui para casa. Tinha de digerir aquilo! E subi ao morro, de onde se avistava, parecia, o mundo todo! A estrada do Alto Hama, trinta e três quilómetros em linha recta, fechava as suas linhas no horizonte, atravessando as anharas férteis mas incultas; do outro lado, pela grande serra Lubanganga descia um colar de fogo: mais uma queimada, o ar pesado, irrespirável. A meio do morro do Bailundo, uma capelinha assinalava a passagem da palavra de Cristo por aquelas terras! E foi então que comecei a chorar...

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