Daí não há-de advir grande mal à humanidade, mas deverá ser Pandora, pois se juntarmos algumas letras gregas, a saber um pi, um alfa, um niu, um delta, um omega com acento, um ró e outro alfa - símbolos que mesmo os estudantes de ciências exactas conhecem bem - e que parece ser o nome original da dita, creio bem que dará Pandora (acentuada no o) e não Pândora (acentuada no a).
E a isto se resume o pouquíssimo grego que sei, e mesmo este só à custa de ter ouvido, muitas vezes: por que perguntas isso? Olha, está aqui o dicionário com a origem das palavras. Mas eu não sei ler isto, é grego! Está aqui a gramática de grego, e logo no princípio o alfabeto, podes ver como é.
É sabido que o ensino oficial não proporciona, pelos menos como hábito sistemático, este tipo de aprendizagem. Talvez por que não é esse o seu objectivo; talvez por que daria mais trabalho a uns e a outros.
Daria mais trabalho, mas só inicialmente, por que quem assim foi treinado fica com ferramentas para toda a vida - como quem diz que mais vale ensinar a pescar do que oferecer peixinhos.
O facto é que, a partir do momento em que me foram apresentados dicionários e gramáticas, bem como outras preciosidades em letra de forma, raramente ouvi da boca de meu pai respostas directas. Ao ser questionado por mim (e muitas vezes o era, coitado!) geralmente respondia-me como atrás, pondo à minha disposição os instrumentos de pesquisa daqueles tempos, em que já se sabe que não havia internet. No final, perguntava-me ele a que conclusão tinha chegado, premiando a minha pequena vitória com um sorriso.
Vem a propósito dizer que hoje que temos acesso à internet, nem sempre nela se encontram as respostas pretendidas; nela viajei à procura da decisão entre Pândora e Pandora, mas nada encontrei a respeito e voltei aos antigos métodos. É sempre bom dispor de vários sachos, não vá um partir-se.
Mas voltando à Pandora, vinha a ser como nos lembraremos uma jovem que abriu uma caixa que não devia, um pouco à maneira de Eva que comeu uma maçã que também não devia. Da caixa sairam então todos os males que daí para frente passaram a afligir a humanidade, como sendo a velhice, o trabalho, a doença, a loucura, a mentira e a paixão. No fundo da caixa, ficou a esperança, segundo algumas interpretações do mito; noutras, o desconhecimento da hora da nossa própria morte, o único verdadeiro bem. Com os males libertados da caixa, teve fim a idade de ouro da humanidade - o que corresponderá à expulsão do paraíso, numa outra história que conhecemos melhor, ou talvez mais bem, que a decisão entre os comparativos há-de ficar para outra.
Os autores gregos listaram, em verso, os males que afligem a humanidade - muito bem. Eu vou resumi-los num só, e quem me dera ser poeta como eles:
Dizia meu pai ao subir o monte
dos nossos passeios - tão longe a infância -
que havia do mal somente uma fonte
chamada ignorância...
E para acabar, o pormenor cómico: como professora, uso muitas vezes a estratégia na qual fui afinal treinada, de mandar os alunos pesquisar por si mesmos, quando eles me perguntam isto ou aquilo. Eis senão quando corre pela sala dos professores a seguinte observação: a profª Fulana também não deve ser assim tão competente, pois não sabe responder às perguntas dos alunos e manda-os pesquisar.
Ai, Jasus qu'ride!
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Teu pai, para além do mais, era um grande pedagogo. Na realidade é a pesquisar que se aprende e a ausência deste pressuposto é, muito provavelmente, a verdadeira “Caixa de Pandora” da aprendizagem actual. Escreve a letras garrafais na sala de professores da tua escola este fabuloso provérbio chinês: “O que eu ouço esqueço, o que eu vejo recordo e o que eu faço aprendo”. Desde que descobri esta enormíssima verdade nunca mais “ensinei” nada e os meus alunos passaram sistematicamente a pesquisar. Se aprenderam mais… não sei. Mas frequentemente ao tocar a campainha, anunciando o fim dos 90 minutos, ouvia este comentário percorrer a sala de lés a lés : “Ui! Já tocou! Ainda agora entramos!” Esta era a melhor chancela da qualidade das minhas aulas. Por favor, não te arrependas de pôr os teus alunos a pesquisar…
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