sábado, 18 de abril de 2009

O navio



Tipo ... Navio misto de 2 hélices
Construtor ... Cantiere Navale Trestino
Local construção ... Monfalcone - Itália
Ano de construção ... 1929
Ano de abate ... 1973
Registo ... Capitania do porto de Lisboa, em 21 de Abril de 1930, com o número 420 F
Sinal de código ... C S B U
Comprimento fora a fora ... 112,82 m
Boca máxima ... 15,30 m
Calado à proa ... 6,69 m
Calado à popa ... 6,99 m
Arqueação bruta ... 4.559,55 Toneladas
Arqueação Líquida ... 2.694,45 Toneladas
Capacidade ... 4.292 m3
Porte bruto ... 4.724 Toneladas
Aparelho propulsor ... Duas máquinas de triplice expansão, de 3 cilindros cada, construídas em 1929 por John G. Kincaid & Ca Lda. em Greenock - Escócia. Quatro caldeiras, com 3 fornalhas cada, para a pressão de 14,7 K/cm2.
Potência ... 4.430 cavalos
Velocidade máxima ... 14,0 nós
Velocidade normal ... 12,0 nós
Passageiros ... Alojamentos para 10 em classe de luxo, 68 em primeira classe, 78 em segunda, 98 em terceira e 100 em cobertas, no total de 354 passageiros.
Tripulantes ... 98
Armador ... Empresa Insulana de Navegação - Lisboa


Dos amores todos foi ele o primeiro
chegadas as férias que grande alegria
comprar a passagem tão pouco dinheiro
custava o mar alto e a ventania

Lá vinha o navio como ele avançava
que belo corcel de sagas estranhas
saía da bruma sereno enfiava
a proa nas vagas nas vagas tamanhas

E eu espreitava boneca nos braços
gritava bem alto aí vem chegou
e o peito insuflava com o ar dos espaços
espaços sem fim que ele me ensinou

E quando a seu bordo o povo abrigado
ficava pra trás sem medo esquecida
vinha um marinheiro dizia zangado
já lá para baixo menina atrevida

Em baixo o lugar do homem segundo
pra baixo seguia a gente mesquinha
são coisas da vida mandar para o fundo
a dona do mar a deusa marinha

A tudo indiferente a proa troçava
dos perigos sem nome do grande canal
e eu na vigia a cabeça enfiava
os lábios lambia gostava de sal

Assim fui crescendo tão grande fiquei
em outros navios andei embarcada
os sonhos da infância na mala levei
mas ao regressar não trazia nada

Carvalh'Araújo teu nome inda sei
por onde é que andas que é feito de ti
eu fui pra tão longe e quando voltei
tu já cá não estavas nunca mais te vi

Os velhos desejos de um dia agarrar
na roda do leme contigo fugir
como dois amantes que vão para o mar
em busca de ilhas para descobrir

também me deixaram tão longe os perdi

E as ilhas do longe vão ficar à espera
à espera de um outro descobridor
que eu já não sou aquela que era
eu já não consigo amar um vapor



Na verdade, acho que até ainda consigo, um bocadinho...
A todos os que o amaram como eu!

2 comentários:

  1. Pouco viajei no Carvalho Araújo, talvez infelizmente. Mas recordo-me de, muito jovem, sentir o prazer do seu embalo durante dez dias, de Lisboa às Flores e outros tantos na volta. Recordo-me de sonhar junto à sua amurada; sonhar com o meu futuro e os meus desejos; de conversar com os estudantes entrados em S. Miguel e na Terceira. Foram tempos inesquecíveis.
    Para ti, tudo isto deve parecer ridículo, por teres vivido mais intensa e demoradamente nessa “habitação” temporária que transportou tantos sonhos de todos nós…

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  2. Que saudades dos tempos, em que estando mau tempo em Santa Cruz e nas Lajes, o Carvalho ia fazer serviço à Fajã Grande… E nós, os fedelhos da terra, ficávamos ansiosos, no cais, à espera que os sacos de serapilheira a abarrotar de açúcar tivessem um pequenino furo que nos permitisse saborear uma nesga do seu doce conteúdo…

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