sexta-feira, 26 de março de 2010

Eu sou Diógenes, o cão...(IV)

Carta que enviarei hoje ao...

Exmo. Senhor Director do Centro de Saúde do Nordeste:


Peço a melhor atenção de Vª Exa. para o que passo a expor.

Na passada quarta feira, dia 24 do corrente, por volta das doze horas e trinta minutos, acompanhei uma colega (tal como eu própria professora na Escola Secundária do Nordeste) aos serviços de atendimento permanente do vosso Centro de Saúde, em virtude de a mesma se encontrar a queixar-se vivamente de dores num joelho e perna, por ter escorregado e caído ao entrar na Escola. Fez a dita senhora a respectiva inscrição nos serviços administrativos, tendo seguidamente eu tocado à campainha (na porta correspondente ao atendimento permanente) e exposto o caso à senhora funcionária que nos atendeu, senhora que não conheço pessoalmente mas que pelo trajo – bata azul clara – supus e suponho tratar-se de uma auxiliar. Disse-nos essa senhora que o senhor enfermeiro de serviço se encontrava a almoçar, que também não se encontrava nenhum médico e pediu-nos que esperássemos um bocadinho.

Assim fizémos. Mas quando o “bocadinho” me pareceu excessivamente extenso, voltei a tocar à campainha, e ao ser de novo atendida pela mesma senhora perguntei-lhe se tinha informado o senhor enfermeiro do que se passava, ao que ela me respondeu que não, pois o dito senhor se encontrava a almoçar e ela “não tinha visto sangue” (sic). Como apesar de não ser médica, nem sequer enfermeira, estou ao corrente (como a maioria das pessoas estará) de que se pode estar seriamente afectado sem que o sangue escorra de modo visível, tal resposta afigurou-se-me em extremo desapropriada, tendo proferido acto contínuo a ameaça de pedir o livro de reclamações do Centro, para nele registar o sucedido.

Não foi porém necessário fazê-lo, uma vez que a senhora funcionária terá efectivamente comunicado de imediato - e só então - com o senhor enfermeiro de serviço, que daí a poucos minutos atendeu a minha colega, sendo esta devidamente observada, depois, também por um médico.

Quase que se tornam desnecessários os comentários a estes factos, mas permita-me, Senhor Director, que faça pelo menos os seguintes:

1 - Se se trata de um serviço de atendimento permanente, parece ser de esperar que enquanto o senhor enfermeiro de serviço se encontra a almoçar, outro deverá estar a substituí-lo, ou deverá ser claro para os funcionários auxiliares que deverão comunicar de imediato com o primeiro, na impossibilidade de ocorrer a substituição;

2 – Não poderá, obviamente, ser responsável pela triagem entre situações mais ou menos urgentes um funcionário ou funcionária sem quaisquer habilitações ou formação para o efeito, nem poderá o aspecto (que reputo anedótico) do mesmo ver ou não ver sangue servir, evidentemente, de base a uma decisão dessa natureza;

3 – Deverão os senhores e senhoras funcionários do Centro de Saúde, tal como de outros serviços, receber formação adequada para o atendimento ao público, em que fique claro nas suas mentes, entre outros aspectos, aquilo que deve ou não ser dito a quem lá busca socorro para os seus males;

4 – Qualquer funcionário deve estar, também, completamente esclarecido de que o cumprimento do seu próprio dever não pode estar dependente de os utentes do correspondente serviço pedirem ou não o livro de reclamações, para nele expressarem as suas queixas.

Queira pois Vª Exa., Senhor Director, tomar as devidas providências para que estas situações, que lançam pesado desdouro sobre uns serviços que tão profundamente considero e respeito, não se repitam.

E sem mais de momento, subscrevo-me com a máxima consideração.

Nordeste, 26 de Março de 2010

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